"Estou pronto e animado para ganhar 2014", diz Eduardo Campos
Foto: Teresa
Maia/DP/D.A Press
Estou pronto para
ganhar 2014 e vou me entregar a essa missão – disputar a Presidência da
República – com a mesma paixão com que
eu tenho me entregue a construir um Pernambuco melhor para nossa gente”. Com
essa disposição, o governador Eduardo Campos (PSB) traçou um cenário otimista
para o seu projeto nacional em que terá como principal adversária a presidente
Dilma Rousseff (PT), candidata à reeleição. Ele disse está “animado” para
ganhar 2014 e para “dar conta” da missão que receber no próximo ano.
Na sala onde costuma reunir o secretariado para monitorar as ações da gestão, no Centro de Convenções, sede provisória do governo, Eduardo concedeu a habitual entrevista de fim de ano. O socialista fez o último balanço dos sete anos do seu governo, cujos êxitos servirão de vitrine para sua campanha a presidente, a exemplo das escolas integrais, das Unidades de Pronta Atendimento (Upas/Especialidades), projeto que acredita ser fundamental para fazer fluir o atendimento nas unidades de saúde e o Pacto pela Vida, programa de combate à violência.
Na avaliação do governador, 2013 foi um ano bastante “desafiador” para o mundo e muito “intenso” para o Brasil, com o povo brasileiro voltando às ruas embalados pelo desejo de mudança. Debruçado sobre dados estatísticas e resultados, Eduardo estava tranquilo diante dos números alcançados pela gestão. “Nós vamos bater o recorde de investimentos, que é tudo que o Brasil precisa fazer, segundo economistas de todas tendências”, frisou, garantindo que Pernambuco vai alcançou a meta proposta no início do ano de chegar a mais R$ 3,5 bilhões de investimentos. Confira a entrevista concedida aos jornalistas Suetoni Souto Maior, Marisa Gibson, Rosália Rangel, Josué Nogueira, Rochelli Dantas e Tânia Passos, do Diario.
Considerando que este é seu sétimo ano de gestão e o projeto nacional do PSB, se o senhor pudesse citar apenas uma área ou programa do seu governo como modelo para o Brasil, qual seria?
O que mais efetivamente
me toca é ver que nosso governo é mais do que um conjunto de realizações
setoriais. É uma obra de transformação política, econômica, obra que
transformou o quadro social, a gestão pública de Pernambuco. E tem muita coisa
que se observa pelos resultados, que as pessoas veem seus filhos estudando em
escolas integrais. Temos a maior rede de escolas integrais do Brasil, segundo o
Ideb. Ter a maior redução da evasão escolar, segundo o MEC em seu censo 2012.
Ter redução da mortalidade, da violência, reduzir o desemprego a menos da
metade do que era. Tudo isso pode ser medido por estatísticas mas tem uma coisa
que você não mede que é a transformação política que isso está produzindo,
transformação na economia.
Quando o senhor começou em 2007, disse que queria, quando acabasse o governo, ser reconhecido como o governador que tinha conseguido implantar um modelo de gestão impecável. Conseguiu?
Quando eu assumi o
governo, em 2007, no final de 2008 eu fiz uma conversa com vocês (jornalistas)
e dizia com clareza que a gente ia ganhar tudo isso com trabalho e que a gente
ia fazer política de estado e que gostaria de poder entregar os nossos
compromissos. Uma coisa que os pernambucanos viram é que nossa palavra
empenhada é a palavra cumprida. Os nossos compromissos assumidos no sentido de
construir um novo Pernambuco, porque o Pernambuco de hoje é melhor do que o
Pernambuco daquele tempo e a gente precisa garantir que ele siga melhorando.
O senhor tem comemorado a queda nos homicídios. O governo consegue identificar, exatamente, qual o fator ou a ação que contribuiu para isso?
Consegue pelo
território. Temos fomentado com universidades, através da Facepe (Fundação de
Amparo à Ciência e Tecnologia do Estado de Pernambuco), vários estudos científicos
que o nosso pessoal não tem condições de fazer. Temos uma área de estatística
muito boa, mas é preciso que esses dados sejam ofertados a pessoas da ciência
política, da antropologia, da sociologia para compreender a dinâmica de coisas
que são muito novas também. O mercado do crack, por exemplo, é diferente do
mercado de maconha, da cocaína. É necessário saber a dinâmica das gangues.
Quando você tem uma boa estatística, quando consegue territorializar essa
estatística você começa a interpretar melhor a dinâmica do crime. Isso ao lado
do governo presente, que dá uma presença que não é de polícia, absolutamente,
mas de assistência social, mediação de conflito, arte, cultura, escola, você
começa a ver que tem fatores que são distintos a depender de certas realidades.
O governo comemora os
investimentos na saúde, mesmo assim, todas as pesquisas de opinião mostram a
área como a mais crítica junto à opinião pública no Brasil, mas também em
Pernambuco.
Nós temos um déficit na
saúde no Brasil ainda muito claro. Nenhum país do mundo, com economia do padrão
do Brasil e com a população do tamanho da do Brasil, se propôs, de maneira tão
bonita e correta, um sistema único de saúde. Os Estados Unidos da América, por
exemplo, não tem um sistema aberto. Você morre de infarto na porta da rua e não
pode bater nem na porta de uma UPA (Unidade de Pronto Atendimento) porque não
existe lá. Isso nos Estados Unidos da América. Então, há um problema? Há um
problema. Agora, aqui nós temos cumprindo um programa que é maior do que o
nosso compromisso. Nunca se investiu tanto em saúde pública nesse estado como
nesses sete anos. Não dá nem para comparar.
Na sua opinião, onde está o gargalo do atendimento na saúde?
O gargalo é na média
complexidade. Você procurar em uma UPA um ginecologista, um ortopedista de
coluna porque você tem um desvio. Então, temos
que centralizar os serviços de média complexidade e foi daí, exatamente,
que veio a ideia da UPA-E (Especialidade). Em 2014, vamos operar nas urgências
as grandes linhas de cuidado, a exemplo de câncer, cardiologia, doenças ligadas
à saúde da mulher, materno-infantil. Com isso, aqui em Pernambuco, vai estar
organizado e as especialidades nas UPA-Es.
Na época do anúncio do Mais Médicos, o senhor falou que, se tivessem tomado as medidas necessárias anos atrás, não precisaria de um programa como esse. O senhor ainda tem essa opinião?
O problema do Mais
Médicos é que teve um tempo na década de 1980 que nós fomos diminuindo as vagas
das faculdades de medicina que existiam. Como um médico para se formar você
leva dez anos, a falta só se sentiria 20 anos depois. Quando você faz o mapa,
vê que tem centenas de municípios sem médicos. Se você tem edital chamando
pessoas daqui para ali e não tem, o que se pode fazer?
Mas o senhor mesmo já
chegou a dizer que tem médico que não gosta de trabalhar…
Fiz uma discussão para
arrumar o serviço de assistência hospitalar no estado e dar transparência à
quantidade de médicos e resultados e aos hospitais administrados tanto pelo
estado quanto por OS (Organizações Sociais). Eles prestam com clareza quanto
custa, quantas pessoas estão trabalhando, quantas cirurgias são feitas, qual o
tempo de permanência de cada doente. Ou seja, a gente conseguiu chegar a um
nível de resultados que todos os monitoramentos têm de unidade hospitalar por
unidade hospitalar. Agora, em toda profissão tem gente que gosta de trabalhar e
gente que não gosta. Cabe a gente botar esse povo para trabalhar.
A área de mobilidade tem recebido importantes investimentos em Pernambuco, agora existe a preocupação e uma pressão muito grande por conta da Copa do Mundo e algumas obras, no estágio em que elas se encontram, correm o risco de não ter a excelência que se deveria em projetos desse tipo. É mais importante cumprir cronograma ou fazer uma obra de excelência?
Vamos fazer obra de
excelência, mas vamos cumprir o cronograma. As duas coisas. Tem coisas que são
da Copa e tem coisas que não são. Na questão da mobilidade, a Copa foi uma
oportunidade para a gente fazer aquilo que já deveria ter sido feito e faltava
dinheiro. O Brasil passou muito tempo sem investir em transporte público de
massa e houve todo o processo de incentivo ao transporte individual, inclusive,
nos últimos anos. Pulamos de 1,2 milhão de veículos em 2006 para 2,4 milhões de
veículos em 2012. E nós tivemos que fazer aqui em relação à mobilidade, que
virou um tema nacional, sobretudo a partir de junho, prioridade desde o
primeiro governo. Esse conjunto de obras vai ser entregue e, ao lado dessas
entregas, vão ter coisas muito importantes que é licitar as linhas. Ter uma
política que garanta transparência, controle social sobre as passagens. Tudo
vai dar um resultado cultural diferente do transporte coletivo de massa.
De qualquer forma são
três meses para fazer grande parte do que foi prometido no quesito mobilidade.
Não tem nada fora do
cronograma. Todas as entregas que foram compromisso da Copa das Confederações
nós cumprimos. Tudo que é compromisso para a Copa será cumprido. E todas as
demais serão entregues até 2014 e a BR-101 que é um prazo para entregar em
2015. Os corredores Norte-Sul/ Leste-Oeste serão entregues em 2014, no prazo pactuado.
Os corredores serão em março. O importante é entregar o que foi prometido da
maneira correta. É você ter uma estação com segurança, se tiver chovendo, a
pessoa está abrigada porque tem o prédio no padrão como deve ser.
As mudanças na Avenida Agamenon Magalhães estavam previstas para ter início em dezembro, mesmo não sendo para a Copa. O que aconteceu?
Para iniciar a obra,
tem que ter projeto executivo aprovado. A obra efetivamente começa quando tem
projeto, que se transforma em projeto executivo, aprova, e tem que começar a
obra com tudo planejado. Não pode parar para projetista dizer o que vai fazer.
Só entra quando está completamente seguro de todo o projeto executivo. O
executivo foi terminado, o canteiro foi implantado e foi apresentado ao governo
federal. A informação que eu tenho é que a liberação virá em dezembro para que
possamos em 2014 entrar em campo, porque é parceria nossa com o governo
federal.
O senhor citou 2014 como ano de grandes entregas como a Refinaria Abreu e Lima, a Fiat, mas já há uma grande preocupação com relação aos empregos. O pico de obras já está chegando ao fim e as indústrias ainda não estão operando. Como o governo pretende superar esse hiato?
Grandes empreendimentos
estão em obra até o fim de 2014 e entram 2015. Vai ter menos obra, mas vai ter
obra. A intensidade do ano de 2014 continua até 2015. O que estamos tratando é
um conjunto de obras como essa que será sequenciado com um conjunto de outras
obras que vão se iniciando. Você tem duas cervejarias (Itaipava e Schin) que
irão empregar 950 pessoas cada e começarão a rodar agora nesse verão. Então há
um trabalho de articulação que você vai trazendo novos investimentos para que as
pessoas que estão habilitadas saiam para outros projetos. É a dinâmica de
garantir crescimento econômico, obras públicas, obras privadas, para irem se
ajustando.
O ex-ministro Fernando
Bezerra Coelho, seu aliado, afirmou que o senhor anunciaria a candidatura
oficialmente em fevereiro. Há pressões também para a sucessão estadual. O
senhor confirma essa data? Como tem administrado a pressão interna para definir
a sucessão em Pernambuco?
Na verdade a nossa
programação sempre foi cuidar de 2014 em 2014. É uma decisão estrategicamente
tomada por saber que só em 2014 as circunstâncias estavam colocadas.
O senhor está falando do estado?
Não, falo geral também.
Nós não tínhamos dúvida que no ano de 2013 ia acontecer muita coisa, que ia
jogar sobre 2014 uma circunstância bem distinta da que a gente saía de 2012.
Quem poderia imaginar que o PSB chegasse a dezembro de 2013 do tamanho que o PSB
chegou? Um partido unido, animado, crescendo, recebendo reforços, fazendo
aliança com a Rede, com a (ex-ministra) Marina (Silva); recebendo apoio do PPS,
fazendo o que o PSB hoje tem feito na cena política brasileira. Em 2014, a
nossa discussão sobre o projeto nacional será prioridade. Então, a prioridade é
o projeto nacional, o projeto que vai se colocar com a missão de fazer a
mudança que a sociedade deseja que seja feita, aquela mudança que respeita as
conquistas, que não nega o papel de quem quer que seja que vem construindo
estabilidade, democracia e inclusão social, mas uma mudança que mostra que há
uma exigência da sociedade brasileira de mudar o pacto político que está aí
porque ele não tem condições, ao nosso ver, de produzir nada de inovador à vida
pública brasileira, e pode, ao contrário, colocar em risco as conquistas que
tivemos no passado. Isso não é um juízo de valor contra quem quer que seja, é
uma constatação da realidade, é uma forma da gente ver essa realidade.
Qual o papel do PSB nesse contexto que o senhor descreve?
O PSB ao mesmo tempo
que vai oferecer um projeto para o país, vai ter a tarefa em cada um dos
estados de construir uma frente política que guarde coerência exatamente com
esses valores, com esses sentimentos e uma proposta para cada estado. Em
Pernambuco, com uma obrigação ainda maior de quem produziu essas mudanças para
que as conquistas sejam consolidadas e a gente possa ampliar essas conquistas.
Então, esse desafio é o que vamos dar conta de fazer nesse primeiro semestre de
forma muito tranquila. É bom que temos opções, muitas opções para composição
dentro do PSB, fora do PSB, para composição majoritária e vamos fazer isso no
tempo certo. Todos estão completamente animados com o projeto nacional e todos
estão preparados para fazer a solução que seja necessária ser feita e será
feita com muita tranquilidade, no tempo certo.
O senhor tem falado
muito de soluções, do ponto de vista de gestão. Que experiências de Pernambuco
serviriam para o Brasil, já que o senhor tem criticado tanto a gestão da
presidente Dilma?
Acho que o Brasil
melhorou nos últimos anos. A gente sempre quer que a melhora seja maior e é bom
que seja assim. O Brasil melhorou quando construiu democracia, quando construiu
estabilidade, melhorou quando construiu um ciclo de inclusão social. Isso é uma
fato e o PSB participou desses momentos. O presidente Fernando Henrique fez
oito anos de governo e o PSB se alinhou a luta da Frente Brasil Popular para
ver Lula começar o último ciclo de crescimento e inclusão que foi muito
importante para o Brasil. Em 2010, fomos convencidos que a eleição poderia ir
para o segundo turno e levar a eleição para o segundo turno colocaria em risco
o projeto. E mesmo o Brasil crescendo a 7,5%, mesmo todo mundo junto, mesmo
Lula com mais de 80% de aprovação, a eleição foi para o segundo turno e nós
vimos se iniciar um governo que completa agora três anos.
E como o senhor vê
nesse governo?
A gente viu nesse
governo uma série de questões acontecerem na economia, no diálogo, na relação
política. Uma série de questões. O governo tem acertos? Tem acertos. O governo
tem erros? Tem erros. O fato de o governo que está aí é que cresce muito menos
do que vinha crescendo antes. Cresce a metade do que crescia na era Lula.
Cresce quase a metade do que crescem nossos vizinhos submetidos à mesma crise
internacional que nós e estamos crescendo quase a metade do que cresce o mundo,
então tem algum problema aqui. Entre esses problemas econômicos, de governança,
de pacto federativo, de diálogo institucional, de narrativa na economia do
plano de longo prazo, prejudicaram as expectativas sobre o futuro do Brasil. É
nesse cenário que o PSB entendeu por bem deixar o governo para que o governo
ficasse inteiramente à vontade e o PSB à vontade para fazer um debate sobre o
Brasil, para colocar o Brasil num debate que não houve em 2010.
Pela sua exposição,
quer dizer que o erro não é apenas a falta de diálogo e foi desde a colocação
da candidatura dela, quando foi impedido esse debate que o senhor está propondo
agora?
Não, eu disse que houve
uma decisão do PSB com o apelo do presidente Lula a quem dedicamos respeito,
com quem trabalhávamos naquele instante que ele dizia que queria que o projeto
continuasse e havia um risco e nós entendemos que a decisão que tomamos foi
certa. A campanha como ela se desenrolou não permitiu um debate efetivo sobre o
Brasil. O debate resvalou para temas religiosos, resvalou para agressões. Mas
temos um país que tem uma missão muito maior do que fazer uma segunda versão do
PAC, do que fazer uma segunda versão do debate entre nós e eles. O Brasil tem
20 anos de janela demográfica, só 20 anos mais o Brasil será um país jovem. Ou
nós arrumamos o país nesses 20 anos ou nós vamos chorar esse século todo as
oportunidades perdidas. Então, temos que olhar para a qualidade de vida do povo
brasileiro que está sendo reclamada, para democracia que esta sendo reclamada,
para o serviço público que está sendo colocado em cheque pela cidadania
brasileira. Você imaginar que essa não é uma nova hora de fazer um debate com
conteúdo, que é só discutir nomes e interesses do partido, aí eu desaprendi
política.
O senhor acha que é o
político indicado para impedir que o Brasil desperdice esses 20 anos em 2014. O
senhor se dispõe a ser esse homem?
Ao longo desses sete
anos aqui, eu amadureci muito, aprendi demais e tenho aprendido todos os dias e
vejo que estão criadas as circunstâncias políticas no Brasil para que o PSB
tenha um candidato para Presidência da República. Essa decisão nós vamos tomar
em 2014, mas posso lhe dizer que estou pronto e estou animado para ganhar o ano
de 2014 e para dar conta da missão que
me foi entregue. Vou me entregar a essa missão com a mesma paixão que eu tenho
me entregue para construir um Pernambuco melhor para nossa gente.
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