Estes dias dando uma olhadinha nos jornais vi uma foto que
acendeu a luzinha que provoca pensamentos filosóficos. Era um alto representante
do clero católico, totalmente paramentado, visitando uma governante que tinha
obtido uma sobrevida administrativa em decorrência de uma decisão judicial.
Pelo que observo no ibope cidadão a existência de tal
governante é um dano ao desenvolvimento, e um atraso amparado em índices negativos
diversos que acompanham sua gestão desde o início.
Numa situação desta é recomendável discrição no apoio
institucional, uma vez que a grande maioria da população achou bom o
afastamento. A pessoa ir dar um abraço, em nome de uma amizade pessoal é uma
coisa, mas a pessoa ir com a farda do exército por exemplo, com o crachá da
empresa ou a vestimenta eclesiástica, caracteriza um apoio da instituição que
representa, o que não é recomendável.
Olhando a foto mais uma vez fiquei refletindo. As religiões
ocupam uma posição muito confortável, diria até, paradisíaca, diante do inferno
que vivemos. Explico melhor: se um religioso não apoia alguém que cai de uma
posição superior, se não visita um preso qualquer e não abraça um criminoso
barra pesada, ninguém reclama, afinal, as situações são de erro e a priori,
nenhuma religião aceita as coisas erradas.
Se por outro lado, algum religioso abraça um preso, se
solidariza com um governante em desgraça ou fica ao lado de baderneiros
diversos, a sociedade tende a compreender, afinal as religiões pregam o perdão,
a fraternidade etc.
Seguindo este raciocínio, os religiosos, pelo menos em tese,
navegam neste mar de benevolência pública, não sendo recriminados em nenhuma
situação e, até internamente, se perdoam quando são flagrados nos atos mais
terríveis, como a pedofilia, por exemplo.
Observando vários comportamentos religiosos em todos os
tempos, percebemos com olhos de querer ver, que muitos seres de índole
negativa, se abrigam nestes espaços, para que possam se mover em habeas corpus
preventivos, realizando suas maldades no privado e acendendo velas em público.
Nós, simples mortais, submetidos as leis comuns e aos dogmas
religiosos, geralmente não somos bem julgados quando agimos dessa maneira muito
pendular.
Em nosso cotidiano somos sempre cobrados pelo famoso “ou é,
ou não é”. Já os religiosos podem ser e podem não ser, podem abraçar ou podem
condenar, podem beijar e podem apedrejar.
Por enquanto, nesta sociedade presa a mentiras históricas, traduções
interesseiras e equívocos consolidados, teremos que navegar nesta ambiguidade
e, quem sabe um dia, possamos finalmente ter a luz do esclarecimento, a verdade
verdadeira de como as coisas realmente são, dispensando muitos intermediários
que, na verdade, tem menos condições intelectuais e morais que a média de todos
nós.
F: Flávio Rezende
F: Flávio Rezende
É escritor, jornalista e ativista social em
Natal
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