SAUDOSO MONÓCULO EXIBICIONISTA
CRÔNICA
Dutra Assunção
- Criança e adolescente na zona rural de Santana do Matos até 16 anos, sou apreciador dos causos e do humor do sertanejo. Nunca esqueci do cascateiro Astrogildo. Vindo das bandas de São Romão, moreno forte, esperto, sempre se gabando de si mesmo. Passando uma temporada na fazenda Camará, sempre aparecia no hotel da Dona Maura em Residência, montado em um burro mulo alazão, todo arreado com mirabolantes enfeites que ele dizia vindos de Goiás. Namorador, chegava nas casas, ainda montado, ia e vinha entre porta e janelas, demorando a desapear, só o fazendo por insistentes convites. Ele era uma figura e sempre a cortesia de nossa gente prevalecia, fazendo ele descer da montaria. Mais a vontade e logo no inicio de conversa, sempre tirando e colocando o chapeu, gesto que girava sempre a cabeça para mostrar o longo risco que descia da ponta da costeleta até a parte posterior do queixo. Quando notava que alguem observava, antecipava dizendo: - isso foi uma pegada de boi brabo que fiz quando era capataz de uma fazenda em Pires do Rio no Goiás. Quando era bem recebido, ficava habilidoso, conversa vai, conversa vem, assuntos pra lá de metros. Mais a vontade no papo, fazia questão de mostrar, aparecendo pendurado no cinto aquele Monóculo vermelho como se fosse um chaveiro. Estava a estratégia feita para as mocinhas se aproximarem e ele mostrar com muita calma e carinho as cinco fotos em giro deslizante e sequencial que oferecia o mais moderno apetrecho visual fotográfico da época, aquele maldito monóculo! Eram fotografias tiradas onde Astrogildo sorria ao lado de estátuas de São Francisco, com romeiros e outras no Pão de Açucar e a praia de Copacabana no Rio de Janeiro. Agora concluo que já tinha aguçado um sexto sentido: achava estranhas as fotos. Eram verdadeiras artgraf, montagens da época. Naquelas visitas comecei a verificar certas coincidências, mesmos dias da semana, hora e atenções especiais a Rosinha. Rosinha, morena assanhada pela qual eu já nutria amor e puros sentimentos. Já mocinha, afoita, sagaz e faceira, ela atendia os clientes do hotel como se fosse uma recepcionista. Enciumado, comecei à acompanhar as visitas do indesejável Astrogildo. Numa delas aconteceu um imprevisto. O visitante entrou de casa a dentro após a exibição das fotos e deixaram o tal binóculo em cima da mesa. Tal foi a surpresa na semana seguinte quando Dona Maura reuniu todos que trabalhava com ela no hotel e formalmente comentou o fato de maneira investigativa e perguntando: - "quem tinha colocado pingos de querosene ou coisa parecida no monóculo do galanteador?". Entre todos reunidos, eu estava ali como se fosse um assessor de sentença. Olhares se cruzaram com expressivas curiosidades e gestos descompromissados. Saindo do recinto, um a um sem nada comentar. Por último ficou Rosinha. Inteligentemente leu nos meus olhos, com um sorriso que já parecia especial, caminhou em minha direção como se fosse dizer alguma coisa e disse rapidamente, baixinho com trejeitos encantadores: - depois preciso saber se alguém tem outra substância já usando por aí afora. Naquela noite perdi minha virgindade.
CÂMERA VIAJANTE
CÂMERA VIAJANTE
A crônica "SAUDOSO MONÓCULO EXIBICIONISTA" foi inspirada ao receber um e-mail de minha filha Natália Guimarães com o título de “Câmera Viajante”, um curta de 20 minutos que mostra como é o trabalho de alguns fotógrafos no interior do Brasil. Principalmente explorando o tema religioso, social e político brasileiro. Cidades como Juazeiro do Norte/CE, Santa Cruz, Santana do Matos e Caicó no Rio Grande do Norte, Belém/PA e tantas outras por esse Brasil continental.
A crônica "SAUDOSO MONÓCULO EXIBICIONISTA" foi inspirada ao receber um e-mail de minha filha Natália Guimarães com o título de “Câmera Viajante”, um curta de 20 minutos que mostra como é o trabalho de alguns fotógrafos no interior do Brasil. Principalmente explorando o tema religioso, social e político brasileiro. Cidades como Juazeiro do Norte/CE, Santa Cruz, Santana do Matos e Caicó no Rio Grande do Norte, Belém/PA e tantas outras por esse Brasil continental.
É em volta destas estátuas, imagens e fé cultural que o documentário foi registrado. Ele mostra o trabalho de
alguns fotógrafos da região, que aproveitam um momento único na vida de
muitas pessoas (o contato com a imagem do Padre Cícero) para realizarem
seus trabalhos. É interessante ver como a fotografia é valorizada, como
uma imagem representa muito para os romeiros. Mais do que uma prova de
que realizaram a romaria, é a recordação de um momento importantíssimo
na vida deles.
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