Dono do cofre petista, João Vaccari Neto intermediou operações para Alberto Youssef que desviaram R$ 500 milhões do fundo de pensão da Petrobras
Claudio Dantas Sequeira (claudiodantas@istoe.com.br)
O tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, foi identificado na engrenagem da corrupção que desviou bilhões da Petrobras. Agora surge o elo do comandante das finanças petistas com o doleiro Alberto Youssef na Fundação Petros, o fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. A Polícia Federal concluiu, nos últimos dias, a investigação sobre uma operação que causou prejuízo de R$ 13,9 milhões ao fundo. Mas o valor desviado nesta e em outras operações pode chegar a R$ 500 milhões, segundo os investigadores. No computador de Youssef, a PF encontrou uma pasta com 12 arquivos referentes a negócios do doleiro com a Petros. Quem teria intermediado a operação com ajuda de dois diretores indicados pelo PT para o fundo foi Vaccari. Um deles seria Luiz Carlos Fernandes Afonso, que chegou a presidir a entidade entre 2011 e 2014.
PARCERIA
Segundo a PF, João Vaccari (abaixo) contou com a ajuda de diretores
indicados pelo PT para operar para o doleiro Youssef (acima)
Além deles, a PF registra a participação de
um político “de grande influência” no governo. Ele teria conseguido no
Ministério da Fazenda a liberação de um seguro necessário ao
investimento. Segundo o advogado Carlos Alberto Costa, espécie de testa
de ferro de Youssef, o recurso foi desviado para “pagamento de propina”
aos funcionários da Petros. Costa já havia denunciado o caso à PF em
agosto e depois detalhou o caso em depoimento ao juiz federal Sérgio
Moro. Agora, os investigadores cruzaram as declarações com documentos do
computador do doleiro e relatórios de movimentação financeira das
empresas usadas pelo grupo. Confirmaram, por exemplo, que a Petros foi
induzida a investir num negócio que se sabia irregular.
Os quase R$ 14 milhões foram usados na
compra de uma cédula bancária emitida pelo Banco Banif Primus como
antecipação de recebíveis de um contrato de venda de ferro-gusa, firmado
entre a Indústria Metais do Vale (IMV) e a siderúrgica Barra Mansa.
Ocorre que a IMV era uma empresa falida. Para habilitá-la como
investimento seguro ao segundo maior fundo de pensão do País, Youssef e o
deputado José Janene (morto em 2010) iniciaram um plano de recuperação
judicial, injetaram nela R$ 4 milhões por meio da CSA Project Finance e
entregaram o projeto na mão de Claudio Mente, empresário muito amigo de
Vaccari.
O tesoureiro do PT acionou o então diretor
financeiro da Petros Luis Carlos Fernandes Afonso e o gerente de novos
projetos Humberto Pires Grault. “Emitiram nota através de outras
empresas e o recurso foi desviado para pagamento de propina para os
funcionários da Petros”, disse Costa à Justiça. Afonso foi nomeado
diretor em 2003. Ele tem longa ficha de serviços prestados ao PT, tendo
sido secretário de Finanças do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel,
assassinado em 2002.
Grault, apadrinhado pela cúpula partidária,
já passou por vários fundos de pensão e conselhos de empresas
controladas. Da Petros, ele foi para a Funcef, nomeado como gerente na
diretoria de participações, chefiada por Carlos Borges. Foi Borges quem
recebeu Youssef em março deste ano, numa reunião privada, a pedido do
deputado André Vargas, para apresentar uma “proposta de investimento”.
Tanto Afonso como Grault respondem por denúncias de improbidade.
No depoimento à Justiça, Carlos Costa
alerta que a negociata com a IMV em 2006 foi apenas “a primeira
operação”. Muitas outras vieram. A próxima suspeita na lista da PF é a
barragem de Apertadinho, na qual a Petros colocou R$ 62,4 milhões em
troca de cédulas de crédito bancário. Como se sabe, a barragem –
construída pela empreiteira Schain e EIT – desmoronou e o dinheiro virou
pó.
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