segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A REPORTAGEM "INFÂNCIA PERDIDA PARA O TRAFICO" DA RECORD RECEBERÁ O PRÊMIO: "VLADIMIR HERZOG DE JORNALISMO"



Perigo Premiado

A Record recebe na noite desta segunda-feira, 26, em São Paulo, o prêmio Vladimir Herzog de Jornalismo na categoria documentário de TV. A reportagem premiada foi “Infância Perdida para o Tráfico”, do programa Repórter Record, transmitido no dia 10 de maio deste ano. O Vladimir Herzog, ganho pela Record pelo terceiro ano consecutivo, é um dos mais importantes prêmios do país na área de jornalismo e direitos humanos. Este ano, concorreu com outros 44 documentários de comunicação de todo o Brasil. A editora Cátia Mazin e os repórteres Cristiano Teixeira e Letícia Gil receberão uma estatueta representando o rosto de Vladimir Herzog, símbolo da resistência ao regime militar.

O documentário foi o resultado do trabalho de semanas em que a equipe passou infiltrada em favelas e comunidades carentes para mostrar crianças cooptadas pelo tráfico de drogas e o drama de pais que tiveram os filhos seduzidos pelo crime. Mostra também meninos agressivos, armados e que não escondem que são capazes de tudo para subir na hierarquia do tráfico. Ao pisarem hoje no palco do Tuca, o teatro da PUC/SP, os representantes da Record (em Natal, TV Tropical – canal 8) além do prêmio, estarão recebendo o reconhecimento de toda sociedade brasileira, pela coragem de enfrentar os obstáculos que todos conhecem, para mostrar ao Brasil uma realidade que não dá mais para esconder.

Este é o papel da imprensa que não somente em São Paulo ou no Rio de Janeiro relata diariamente esse “Mundo Cão”, a expressão mais adequada que a editoria de Cidade deste JH encontrou para mostrar neste fim de semana a ocorrência em média de um assassinato/dia na zona Norte de Natal, todos vitimando jovens envolvidos no mundo da droga. Ou a TV Tropical, afiliada da premiada Record, ao abrir espaço esta semana para um depoimento dramático e desesperado de um rapaz de 34 anos que tenta sair do inferno das drogas. No relato ouvido pela repórter Roberta Trindade e apresentado no programa “Caso de Polícia”, o rapaz admitia impotência perante a droga e dizia ter perdido o domínio sobre a própria vida. Daí, o pedido público de ajuda.

Não é diferente o drama do cantor e empresário Rafael Ilha, 36 anos, socorrido há poucos dias com ferimento no pescoço. Segundo a polícia, foi o próprio artista que se cortou com um caco de vidro. O psiquiatra Aloísio Priuli, descreveu o estado de Ilha: deprimido, ansioso, chorando um pouco. O ex-integrante do grupo Polegar dizia, segundo testemunhas, que ia se matar. Ilha foi preso pela primeira vez em setembro de 1998, quando tentava assaltar pessoas num cruzamento para comprar drogas. Chegou a roubar um vale-transporte e uma nota de R$ 1 de uma balconista na zona Sul de São Paulo. Além da folha corrida relatando outras prisões, o cantor chegou a passar mal depois de engolir uma caneta, três isqueiros e uma pilha durante uma crise de abstinência.

Bastam esses exemplos para atestar o inferno em que vivem muitos outros jovens - aí incluindo crianças e adolescentes – e adultos que entram no mundo da droga, retratado na premiada reportagem da Record. Muitas são as causas apontadas para este cenário desolador. Vai desde a desestruturação familiar, o consumismo, passando pela qualidade da educação até a perspectiva de emprego. Agora mesmo, um concurso para gari da Companhia de Limpeza Urbana do Rio de Janeiro, Comlurb, encontra entre os inscritos 45 candidatos que afirmaram ter doutorado, 22 mestrado e 80 pós-graduação. A remuneração é de R$ 486,10, plano de saúde, ticket refeição e vale transporte. Sem demérito para a profissão, é no mínimo uma concorrência desigual.

Mas, nada mais assustador que a constatação de que o tráfico, principalmente do crack, estaria fora de controle no Estado. A cada homicídio envolvendo jovem, a quase certeza: dívida de droga. E de que a expansão da rede do tráfico se deve, entre outros fatores, a cooptação de maus policiais pelos traficantes. Enquanto alguns estão honrando a farda no enfrentamento com bandidos e traficantes, como ocorreu neste fim de semana na operação Xeque-Mate, na região Seridó, outros estão acobertando os chefões, em torno dos quais há toda uma estrutura montada, reconhece a própria polícia. Esta operação pode ser o primeiro passo para o desmantelamento nesse comércio que nos deixa parecidos com os países em guerra ao expor ao mundo, diariamente, um caixão resultado de uma morte anunciada.

Fonte : Welligton Medeiros
Jornalista

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