sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

A AMAZÔNIA PERMANECE COM O TRABALHO ESCRAVO - LISTA SUJA INDICA LOCAIS EM PARÁ, MARANHÃO E MATO GROSSO DO SUL

Libertado da escravidão em Marabá (PA) exibe lesões ocasionadas pelo trabalho e mostra água suja que era obrigado a beber. (Foto: Leonardo Sakamoto-Repórter Brasil/Divulgação)

Amazônia tem mais da metade dos casos de trabalho escravo, aponta lista oficial

“Ministério divulgou relação de empregadores que cometeram esse crime”.
“Locais onde houve mais libertações também são os mais desmatados”.

A Amazônia é a região que mais tem problemas de trabalho escravo, indica uma lista divulgada pelo Ministério do Trabalho e Emprego. Conhecida como “lista suja” do trabalho escravo, a relação traz pessoas e empresas que cometeram esse tipo de crime.

Dos 164 casos enumerados pelo ministério, cem deles (61%) ocorreram em estados que pertencem à Amazônia Legal. O local com mais problemas é o Pará (46 casos), seguido do Maranhão (22 casos) – ambos da Amazônia – e Mato Grosso do Sul (18 casos).

Segundo levantamento realizado pela ONG Repórter Brasil, especializada no combate ao trabalho escravo, quase todos os casos ocorridos na Amazônia estão ligados à criação de gado ou à produção de carvão vegetal – ambas atividades apontadas por ambientalistas como principais responsáveis pelo desmatamento da região.

A maior parte das fazendas onde os crimes ocorreram também coincide com o chamado “Arco do Desmatamento”, onde a floresta vai cedendo lugar à agropecuária.

No Pará, por exemplo, o município mais problemático é São Félix do Xingu (sete casos), que também é o campeão de desmatamento da Amazônia. Lá, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), já foram derrubados 15,9 mil km² de floresta, o equivalente a dez vezes o município de São Paulo.

Direitos básicos Na Amazônia, quem recebe grande parte das denúncias contra fazendas que empregam trabalhadores escravos é o frei Xavier Plassat, da Comissão pastoral da Terra (CPT). Segundo ele, praticamente todas as queixas dos trabalhadores dizem respeito a alojamentos precários, falta de acesso a água potável, alimentação ruim e condições precárias de higiene.

Mas há casos em que a situação é pior. “Muitos também se queixam de serem roubados. De não serem pagos ou de receberem uma mixaria. E a ainda aqueles que ficam presos, longe de tudo, endividados”, relata o frei da CPT.

Segundo Plassat, os casos de trabalho escravo na Amazônia são mais graves que no resto do país. “O isolamento abre a porta para todos os abusos, e impunidade na Amazônia também é maior, pois o acesso à fazenda é tão difícil que o risco de fiscalização é muito menor para o empregador.”

Um estudo conduzido pela CPT mostra que não são poucos os trabalhadores submetidos a essas condições. Segundo a instituição, entre 1995 e 2009 foram libertadas 38.003 pessoas no Brasil. Destes, 22.762 (60%) ocorreram em estados integrantes da Amazônia Legal.

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