segunda-feira, 22 de setembro de 2014

TRUNFO DE MARINA: NA TV ELA APARENTA SER O QUE É

Em tempos de descrença na política partidária, Marina Silva leva uma vantagem sobre seus adversários: na TV ela aparenta ser o que é. Não é só o carisma.

Quando se vê Marina falar, pode-se até duvidar se o que ela diz vai dar certo ou não, se será viável ou não. Porém, por alguma fina sensibilidade de linguagem, ela transmite a sensação de acreditar de fato naquilo que diz.

Não é pouca coisa no Brasil pós-manifestações de junho de 2013, quando prevaleceu, nas ruas, uma rejeição aos poderes instituídos, quer sejam eles governos, Congresso, mídia, empresas ou polícia. O “não-me-representa” gritado e repetido nas ruas colocou a política “oficial” no reino das mentiras, a ser olhada, quem sabe, com a expressão satírica da máscara do anonymous.

Sensação do reino das mentiras que o excesso de marketing nas campanhas eleitorais não ajuda a reverter. Pelo contrário, os partidos, em especial no horário reservado aos deputados, parecem ignorar a rejeição que existe a eles, pois entra eleição, sai eleição, o formato da propaganda é (irritantemente) o mesmo. Parecem alheios ao fato de que, segundo o último Ibope, 64% dos eleitores rejeitam os partidos (quatro anos atrás eram 48%). Como se o esforço de recuperar a política não lhes dissesse respeito.

A performance de Marina na TV, porém, de algum forma parece distanciá-la do apelo propagandístico genérico. Neste sentido, ter pouco tempo de TV pode até ajudá-la daqui até 5 de outubro, mas como será quando ela ocupar metade do tempo no horário eleitoral no segundo turno? Conseguirá manter este approach de sinceridade, de verdade naquilo que fala? Ou as “complicáticas” do mundo real da política – ter que negociar e se aliar a partidos no Congresso, por exemplo – vão colocar ruído nessa comunicação?

No passado, Lula conseguiu estabelecer esta relação de “sinceridade” com o eleitor: aos olhos do telespectador ele parecia acreditar no que dizia em 2002, 2006 e 2010. Geraldo Alckmin, governador tucano de São Paulo, também parece ter este dom da comunicação – ele transmite a sensação de que acredita nas suas próprias palavras, de que estas não são fruto apenas de bem cuidadas campanhas publicitárias. Talvez até sejam, mas não é a sensação que passa ao telespectador.

Para além do carisma, aparentar ser o que é (seu lastro religioso ajuda nisso) pode ser um fator de desequilíbrio a favor de Marina em uma disputa eleitoral que se apresenta apertada e imprevisível. Será melhor para o eleitor, porém, se isto incluir cada vez mais pontos de programa de governo. Não apenas os consensuais (+Saúde, +Educação etc), mas os problemáticos, aqueles que envolvem escolhas e tomadas de posição.
F: Yahoonoticias

Nenhum comentário:

Postar um comentário