sábado, 23 de fevereiro de 2013

SECRETARIA DE RECURSOS HÍDRICOS FECHANDO AS TORNEIRAS



Secretária estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos anuncia racionamento de água em três reservatórios do RN; uso só para o abastecimento humno.

A Secretária estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (SEMARH) anunciou ontem as primeiras medidas de contenção aos efeitos da estiagem no Rio Grande do Norte. Com 44% da capacidade total nas nove bacias hidrográficas, o uso de água ficará restrito ao abastecimento humano em três grandes reservatórios: Armando Ribeiro Gonçalves (Assu), Boqueirão (Parelhas) e Umari (Upanema). Por enquanto, o risco racionamento de água à população está descartadoA medida foi confirmada ontem pelo titular da pasta Gilberto Jales, após a apresentação do relatório da IV Reunião de Análise e Previsão Climática para o Nordeste, realizada nos últimos dois dias na sede da Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio Grande do Norte (Emparn), em Parnamirim. De acordo com os meteorologistas nordestinos, a tendência é de chuvas abaixo de normal para o próximo trimestre (março, abril e maio). Apesar do diagnóstico, a situação está bem diferente do que aconteceu no mesmo período de 2012, quando uma estiagem afetou 127 municípios potiguares.
Reservatórios com níveis baixos
“Estamos em alerta. Esta quantidade de chuvas não irá repor o volume dos reservatórios. Por isso, teremos de executar medidas de contenção”, disse Gilberto Jales. Contudo, o secretário descarta qualquer possibilidade de racionamento para as populações mais afetadas pela estiagem: as regiões do Seridó e do Alto Oeste potiguar.

Nos três reservatórios anunciados pela SEMARH, a situação mais grave é da Barragem Boqueirão, em Parelhas, que se encontra com 35% do volume útil. Hoje com 28 milhões de metros cúbicos de água, o reservatório tem capacidade para reter mais de 85 milhões de m3. “Vamos suspender o uso para a agricultura irrigada. Estes locais serão utilizados apenas para o abastecimento da população”, resumiu. A restrição no uso múltiplo deve ser iniciado já no início de março.

O baixo volume dos outros dois reservatórios também suscita preocupação. No município do Assu, na maior barragem do Rio Grande do Norte, a Armando Ribeiro Gonçalves, com 1,1 bilhão de metros cúbicos, a capacidade de armazenagem chegou hoje aos 49%. Na Barragem Umarí, em Upanema, o volume hoje é de 44,86%.

O trabalho de contenção ao uso da água será feito em conjunto com uma maior fiscalização em torno das bacias hidrográficas potiguares. A ideia é manter um panorama sempre atualizado do volume de armazenamento em cada um dos 71 reservatórios – barragens, açudes e lagoas. A SEMARH também deve intensificar o trabalho na construção de poços artesianos e cisternas. Somente em poços, desde 2012, foram construídos 200. A meta é finalizar 700 até 2014.

Gilberto Jales afirmou ainda que a conclusão das obras do Sistema Adutor do Alto Oeste deverá garantir o abastecimento para mais de 26 municípios daquela região. Ao custo de R$ 100 milhões, a primeira parte das obras deverá ser entregue na primeira quinzena de março deste ano. A estrutura vai receber água da Barragem de Santa Cruz. Já a segunda etapa, com expectativa de entrega no próximo ano, o sistema será alimentado com água da barragem de Pau dos Ferros.

Segundo a governadora Rosalba Ciarlini, a presidente Dilma Rousseff deve participar da inauguração do primeiro trecho da adutora. Ciarlini disse ainda que as atenções do Governo do Estado estão voltadas para as análises do Comitê da Seca, que ocorrem semanalmente na sede da Governadoria. “Estamos preocupados com esta situação. Nosso alento é que não teremos um período de estiagem tão severo quanto o de 2012. Vamos focar em atividades para diminuir o flagelo da seca”, definiu.
Chuvas irregulares
Como antecipou ontem a edição deste NOVO JORNAL, a previsão de chuvas para todo o Nordeste não será das mais favoráveis. A tendência é que as precipitações sejam irregulares e pouco intensas nos nove Estados da região. A situação, no entanto, foi comemorada pelos meteorologistas, em vista da grave situação de estiagem que enfrenta boa parte dos municípios potiguares.

Segundo a meteorologista Lucia Ribas, do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC), um órgão ligado ao Ministério de Ciência e Tecnologia, com sede em São Paulo, os modelos climáticos indicam que as chuvas serão abaixo do normal para os meses de março, abril e maio. Período em que se concentra 85% das precipitações todos os anos. “Teremos chuvas na região leste, no litoral, e em algumas áreas do oeste, no interior dos Estados, mas não serão suficientes para recuperar os prejuízos causados pela estiagem no último ano”, disse.

Ela apontou como a principal causa da irregularidade das chuvas o posicionamento da Zona de Convergência Intertropical (ZCIT). Este fenômeno, um bloco de massa de ar de aproximadamente 300 quilômetros, está situado mais ao norte, nas proximidades do continente africano. Com o afastamento, as nuvens de chuva têm dificuldade de se aproximar do território nordestino.

“O Oceano Atlântico também contribuiu para isso. Dividido em duas partes, o norte e o sul, as anomalias na temperatura superior da água também influenciam para isso. Quanto mais frio a porção norte e mais quente o sul, melhor será para a presença de chuvas”, explicou. Hoje, no entanto, de acordo com os estudos da CPTEC o Atlântico Norte está com 26 graus e o Sul está com 25,7 graus.

Segundo o meteorologista Gilmar Bistrot, da EMPARN, no Rio Grande do Norte as chuvas irregulares serão concentradas nas regiões do Alto Oeste e do Vale do Açu. A primeira área, aliás, foi a grande prejudica com a estiagem ocorrida em 2012. Nos municípios de Luís Gomes e Antônio Martins, a cerca de 350 km de Capital, as chuvas não apareciam desde 2011. “Nos últimos dias, as duas cidades já registraram um bom volume de precipitação”, disse. Nas duas cidades, a média pluviométrica chegou a 100 milímetros (mm) em apenas 15 dias.

O meteorologista observa ainda que a região semiárida e a faixa leste pode apresentar uma alta variabilidade espacial e temporal dos índices pluviométricos. Isso significa que algumas localidades poderão receber a quantidade de chuva menor do que outras, além da possibilidade de ocorrência de ventos extremos. Com isso é de fundamental importância o acompanhamento das previsões do tempo da sua região e do monitoramento das condições atmosféricas.

Gilmar Bistrot afirma ainda que é cedo para afirmar sobre possíveis prejuízos à agricultura. Segundo ele, o período de cultivo ocorre ao longo deste próximo trimestre, e, dependendo das chuvas que caírem, a produção potiguar não sofrerá tanto com a estiagem. “A produção é sazonal e não depende chuvas regulares. Vamos esperar para ver o que acontece”, apontou.

Em 2012, por conta da seca, as perdas nas culturas sazonais de feijão e milho foram de 90%. Em outras culturas importantes, como a mandioca, a perda foi de 40% da safra. No arroz, ficou em 30%. Nas culturas industriais, como a da castanha, a queda foi de 70%. A cana-de-açúcar, por sua vez, apresentou queda de 30% na produção. “Apesar do cenário ainda desfavorável, nós temos a certeza que não haverá tantas perdas produtivas este ano”, avaliou Bistrot.

Já sobre o volume dos reservatórios hidrográficos, ele se mostrou mais cauteloso. “As informações nos mostram que as chuvas não irão recompor as bacias estaduais. O Governo deve agir rápido com medidas de contenção”, ressaltou.

A avaliação foi compartilhada com Eduardo Topázio, diretor do Instituto de Meio Ambiente da Bahia (INEMA), que se mostrou preocupado com o volume das 10 bacias hidrográficas baianas. “Esta perspectiva de chuvas irregulares é muito ruim. Teremos de adotar medidas de contenção urgentes”, revelou.

O caso mais grave é da barragem Pedra do Cavalo, na cidade de Cachoeira, a 110 km de Salvador, que possui 30% de volume útil. A reserva de água é utilizada para abastecer a região metropolitana. “Já fechamos o uso para irrigação e para a produção elétrica”, lembrou. Uma pequena usina elétrica construída na barragem terá as atividades suspensas nos próximos dias.
F: novojornal.jor.br

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