A nova classe C
Se há uma classe social que nos últimos anos passou a ser a “coqueluche” dos pesquisadores sociais, usufruindo das vantagens oferecidas pelo mercado consumidor, esse segmento populacional é, sem dúvidas, a classe C. E não é de hoje que esse extrato de consumidores vem sendo acompanhado por órgãos e instituições de pesquisas, preocupados em analisar de que forma se dá essa mobilidade social, em função das políticas econômicas e sociais postas em prática pelo governo.
Para a Fundação Getúlio Vargas(FGV), a classificação dos diversos grupos sociais leva em conta a disponibilidade de renda auferida pelas famílias, quer seja renda obtida pelo trabalho, rendimentos de aposentadoria ou benefícios auferidos através de programas sociais. Neste sentido, a classe C caracterizada como àquela com renda familiar compreendida entre R$ 1.115 e R$4.807 mensais e que em 2003 representava 37,56% do total da população, passou em 2008 a corresponder a 49,22%, atingindo 91 milhões de pessoas. Esse crescimento acumulado de 31% no período, significa dizer que nos últimos cinco anos 29,5 milhões de brasileiros passaram a integrar a classe C.
A ascensão social da classe C, apreendida pelas pesquisas da FGV, também tem haver com a mobilidade ocorrida nos outros grupos, de tal forma que a classe AB, com renda acima de R$ 4.807 mensais, cresceu apenas 7% em 2008 correspondendo a uma entrada de 1,5 milhão de pessoas neste segmento populacional. Nos últimos cinco anos essa classe absorveu 6 milhões de pessoas, atingindo 19,4 milhões em 2008.
Por seu turno, a classe D que em 2008 representava 24,35% da população e reunia 45,3 milhões de pessoas, com renda mensal entre R$ 768 e R$ 1.115, perdeu 1,5 milhão de indivíduos em cinco anos, enquanto que a classe E, com renda familiar até R$ 768 (que para a FGV caracteriza a pobreza), encolheu 12,27% em 2008 representando uma saída de 3,8 milhões de pessoas do grupo dos mais pobres. De 2003 a 2008 a classe E perdeu 43%, o que é comemorado pela FGV, “na medida em 19,4 milhões de pessoas ultrapassaram a linha de miséria”.
Outra pesquisa realizada pela Cetelem (grupo BNP Paribas) em parceria com o Instituto Ipsos, mostra que a classe C conseguiu ampliar sua participação para 49% da população brasileira em 2009, chegando a 92,85 milhões de pessoas em todo o país. Segundo este estudo, a expansão da classe C chegou a 15% desde 2005, quando representava 34% da população. Naquele ano, as classes A/B e C/D respondiam, respectivamente, por 15% e 51% da população. Nos últimos cinco anos a classe C ganhou 30,15 milhões de consumidores, enquanto que os segmentos D/E perderam 26,05 milhões desde 2005.
É importante frisar que neste trabalho a definição das classes sociais não incorpora o conceito de renda utilizado pela FGV, e utiliza critérios tais como, posse de eletrodomésticos, carro, grau de escolaridade do chefe de família etc,, definidos pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisa(ABPE). Segundo seus autores, “a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados(IPI) para móveis e veículos foi uma das razões para a mobilidade social, por facilitar o acesso de mais consumidores a esses bens”. No item investimento, a pesquisa mostrou que em 2009 a classe C foi a que mais direcionou recursos para aplicações, média de R$ 633, ficando em 17% a pretensão para compra de carro e em 28% os gastos com lazer e viagens.
Apesar de se utilizarem de indicadores diferenciados, as duas pesquisas apontam para o mesmo enfoque: a classe C foi a que mais se expandiu em 2009. No âmbito da FGV, a expectativa é de que 26,6 milhões de pessoas deverão se incorporar à classe C e mais 9,4 milhões às classes A/B, até 2014. Neste sentido, “o aumento da escolaridade da população, a expansão dos postos de trabalho com carteira assinada e a manutenção da rede de proteção proporcionada pelos programas sociais serão fundamentais nesse processo”.
Economista
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