quinta-feira, 22 de novembro de 2012

VOCÊ E EU

                                                                        CRÔNICA

De todos os tipos de homem, Verônica poderia escrever uma lista telefônica, catalogando-os de A a Z sem pular letra nenhuma. Durante sua vida nada mais fez que divertir-se as custas de pobres coitados iludidos por sua infinita beleza, temperada com uma pitada de descaso e deboche.
Desde menina aprendeu a ignorar todo e qualquer tipo de cantadas, e não eram poucas as que recebia. Mal conseguia andar tranquilamente pelas ruas onde morava que ouvia todo tipo de gracejo. Claro que todos eram respondidos com a delicadeza que lhe era peculiar.
- A princesa tem telefone?
- Tem, mas de sapos querendo virar príncipes ela já se cansou!
- Você é a nora que minha mãe pediu a Deus!
- Podia ter pedido um filho melhor também, não acha? Sempre a causar inveja nas mulheres do bairro acabou por não nutrir amizades muito sólidas, mas em contrapartida arrebatou carolas que ficavam aos seus pés para tentar entender qual o fascínio que aquela mulher exercera sobre os homens. Nem os quase trinta anos abalaram sua popularidade. Desde meninos a homens, muitos tinham em Verônica a mulher que poderia lhes redimir de serem simples mortais. Um encanto inato que fora construído logo na primeira vez que resolvera se deitar com seu primeiro “namorado”. Era uma paixão de não se por defeito, Verônica limpava o chão com seu ego só para vê-lo desfilar, pena que o sentimento não era recíproco e após ver sua virgindade desmanchar-se em lençóis, viu-se sozinha. Fez o prático, entendeu que nenhum homem prestava. De certa forma, durante um bom tempo esse comportamento lhe livrou de muita encrenca. Porém, em algum momento, ignorar toda prosa e pompa masculina acabou por promover uma espécie de frieza e porque não, uma certa amargura. Gabava-se de ter feito chorar metade dos homens que conhecera, a maior parte ao perceber que aquele coração nunca teria dono. O homem é o animal racional mais irracional que há, basta ver que não há possibilidade de se dar bem que mete as caras. Parte do temperamento forte herdara de seu pai, um espanhol que fugiu para o Brasil após um romance mal sucedido com a mulher… De um toureiro. O resto era dela, visto que não fora criada pela mãe, pois a mesma sumiu no mundo antes de Verônica saber dizer seu nome. Noite afora, dia adentro, sua presença era garantida nas melhores festas do Rio. Não dispensava um bom convite nem que houvesse enterro de família para ir. Qual seria o problema em chegar depois? O mal já estava feito de qualquer forma – pensava. Apesar de boemia fazia questão de não se ver de agarros com homem nenhum, não queria ficar falada. Seu prazer era outro, bastava seduzí-los, deixá-los encantados e ir embora sem dar satisfação. Em uma dessas noites, acabou por ser apresentada a Marcos, irmão de uma amiga paulista. Claro, que, como em todas as ocasiões, fez seu charme. Não sei se fora a miopia de Marcos, seu instinto ou conhecimento de causa, mas o rapaz não deu a menor bola aos encantos da moça. Simplesmente resumiu sua comunicação ao que lhe cabia na educação, pagou a conta da mesa toda e foi embora, não antes de lhe despedir de todas as moças, menos Verônica. Se havia um jeito de alguém conquistar aquele lugar, já esquecido por tanto lembrarem, com certeza Marcos sabia.
F: Marcelo Vitorino

Nenhum comentário:

Postar um comentário