Dra.
Patrícia Magalhães
Eu hoje me lembrei do sociólogo polonês Zygmut Bauman quando esse afirmava que “nós hipotecamos o futuro”. Creio que fizemos isso na Medicina brasileira quando entregamos as rédeas da condução das diretrizes da nossa profissão aos dirigentes dos conselhos regionais – tal qual, como cidadãos, fizemos com a classe política. Votamos em eleições obrigatórias, muitas vezes em candidatos “menos piores”, não nos questionamos quando vimos pessoas que não honravam o título de médicos não serem devidamente punidas, quando percebemos nossas condições de trabalho cada vez mais tornarem-se a “ausência de condições”- e nada, absolutamente nada, ser feito - e não nos indignamos quando descobrimos os absurdos praticados pelas cooperativas e planos de saúde com a anuência e o aplauso dos conselheiros. Aceitamos calados e omissos e continuamos, passivamente, pagando religiosamente nossas anuidades e procurando não infringir as normas de um código de ética que era simplesmente rasgado na nossa frente. Tenho quase 25 anos de profissão e há 18 não trabalho no SUS. Não sou membro de nenhuma cooperativa e nunca fui ligada a nenhuma operadora-exploradora de planos de saúde. Fui massacrada em virtude das minhas posições pessoais. “Não vai sobreviver”, “é impossível não atender convênios”, eram as frases que eu ouvia. Sobrevivi, e sobrevivo, com dignidade. Nunca precisei roubar, prostituir-me, ou ignorar meus valores morais.
Eu hoje me lembrei do sociólogo polonês Zygmut Bauman quando esse afirmava que “nós hipotecamos o futuro”. Creio que fizemos isso na Medicina brasileira quando entregamos as rédeas da condução das diretrizes da nossa profissão aos dirigentes dos conselhos regionais – tal qual, como cidadãos, fizemos com a classe política. Votamos em eleições obrigatórias, muitas vezes em candidatos “menos piores”, não nos questionamos quando vimos pessoas que não honravam o título de médicos não serem devidamente punidas, quando percebemos nossas condições de trabalho cada vez mais tornarem-se a “ausência de condições”- e nada, absolutamente nada, ser feito - e não nos indignamos quando descobrimos os absurdos praticados pelas cooperativas e planos de saúde com a anuência e o aplauso dos conselheiros. Aceitamos calados e omissos e continuamos, passivamente, pagando religiosamente nossas anuidades e procurando não infringir as normas de um código de ética que era simplesmente rasgado na nossa frente. Tenho quase 25 anos de profissão e há 18 não trabalho no SUS. Não sou membro de nenhuma cooperativa e nunca fui ligada a nenhuma operadora-exploradora de planos de saúde. Fui massacrada em virtude das minhas posições pessoais. “Não vai sobreviver”, “é impossível não atender convênios”, eram as frases que eu ouvia. Sobrevivi, e sobrevivo, com dignidade. Nunca precisei roubar, prostituir-me, ou ignorar meus valores morais.
O
conselheiro levantou-se, aconselhou-me a fazer um curso de Direito,
ficou desfilando as maravilhas de ser um advogado e me disse que
deixamos de ser profissionais liberais há muitos anos (só faltou me
perguntar – “ainda não entendeu isto, imbecil?”), disse-me que
a empresa estava certíssima em sua atitude, e retirou-se da sala
deixando-me sozinha. Estupefata, e realmente sentindo-me uma idiota,
saí do prédio do CRM e pedi demissão do emprego.
Pois
bem, senhores “conselheiros”, agora é minha vez de afirmar que
conselheiros de verdade vocês deixaram de ser há muito tempo (se é
que algum dia o foram realmente). Nunca souberam o real significado
do poder e da força política, que um dia tiveram em suas mãos, e
que lhes foi legitimamente entregue pela classe médica. De uma forma
bem simplista, primária até, vou lhes dizer: poder é a capacidade
de fazer o que é preciso ser feito; política é a habilidade de
decidir o que deve ser feito. Neste momento vocês demonstram que
abriram mão de ambos os conceitos no que se refere à defesa dos
ideais dos médicos deste país e dos nossos princípios éticos.
Sua
única alternativa agora é fazer o que este conselheiro jamais
deveria ter me sugerido: submeter-se e sair com o restinho de “poder
e política” que o Ministério da Saúde ainda lhes deixou.
Belo Horizonte, 1º de outubro de 2013
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