quinta-feira, 2 de setembro de 2010

"JOÃO DE JUCA" FOI AO ENCONTRO DOS PAIS


“João de Juca” foi ao encontro do pai “Juca do Camará”

Faleceu na terça-feira, 31/08 as 21:20h no Hospital Clovis Avelino em Santana do Matos, João Ernesto de Carvalho Filho, “João de Juca” como era conhecido. Morava na fazenda Camará, reduto dos “Carvalho” do saudoso Juca do Camará. João de Juca permaneceu na zona rural enquanto os irmãos Irapuã, Tarcísio, Guaraci, Margarida, Marta e Lúcia foram morar na cidade.

Estive com ele na segunda-feira, véspera de sua partida. No leito, lúcido, autêntico como sempre, sinalizou pelas lágrimas espontâneas que não estava bem. Reagi apertando sua mão, indaguei pelo gado! Foi a transformação em vida, interessado me disse que as reses estavam bem, no bagaço de cana e no sodoro - atravessariam bem a seca do fim de ano! Seus olhos claros brilharam, aqueles momentos translúcidos amenizaram por instantes a realidade de um grande sertanejo, naquele instante, com certeza, ele gostaria de estar em Camará.

Após o assunto do gado, um silêncio entre olhares, foi o prenúncio da despedida. Apertei sua mão novamente, correspondido com vigor, deixou claro pelo gesto firme que ali estava, forte, frágil, conscientes valores de uma geração. Na saída, ao lado da porta no corredor do hospital estava sua irmã Margarida, um abraço sem palavras, sentimentos latentes, a vida como mistério.

Na terça-feira as 22:00h na capital recebia o telefonema de Tarcísio. Respeitosamente expressei meus sentimentos, condolências à família. Em reflexão  - “João de Juca” foi ao encontro dos pais.

Naquela noite lembrei da Fazenda Camará, “reduto dos Carvalho” e da vizinha Conceição dos Silveiras, que também perdeu há poucos meses seu filho Paulo de Esther. Localidades essas próximas a Residência que marcaram minha infância e adolescência pelo convívio e afeto dos nossos ancestrais em parentesco. Conceitos e valores que permanecem até hoje, refazendo meio século com páginas não escritas de história que sobrevive ilustrada, muito mais pelas dificuldades vencidas que pela beleza quando a vida explode em flora e fauna logo aos primeiros dias de um ano de inverno. Assim vivemos com nossos potenciais adormecidos e alguns progressos. Enfretando com dificuldades, continuamos crismando, batizando e criando nossos filhos, assim como, enterramos nossos mortos com sentimentos e esperança de um melhor futuro para as novas gerações. A perda desmotiva nossas esperanças, redefinir conceitos, exemplificar os valores de coragem, disposição, honestidade e trabalho não interpretam como valores as novas gerações. Sentamos! Estudaremos os novos caminhos, conscientes que as transformações ajudam e a vida continua.

2 comentários:

  1. Dutra você é simplesmente genial ,sua crônica , me fêz simplesmente ir as lágrimas . Como é bom ler algo que enriqueçe e engrandeçe o nosso sentimento de amizade !

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  2. João de Juca,

    Que Deus o recebas com a alegria que recebias tuas visitas no final da tarde, oferecendo um cafezinho bem quente e falando sobre os sinais da chegada do inverno. Eis um vizinho que todo mundo queria ter. Eu tive este prazer. Como acho que continuamos a viver em espírito, estou certo que quer onde se encontre o meu vizinho haverá de vez por outra visitar o seu lar terreno, principalmente à tardinda, onde de sua calçada vislumbrava a linda paisagem do Camará. Até breve amigo.
    Dutra, você escreve como ninguém, e prestou uma linda homenagem àquele que sempre se manteve firmemente ligado às terras férteis e ao mesmo tempo castigada no nosso lindo e maravilhoso Sertão. Parabéns. Assim como o autor do comentário anterior fiquei emocionado com a sua mensagem de despedida do amigo João de Juca que foi ao encontro dos seus conterrâneos Paulo de Esther e Manoel Jota.


    Rosivaldo.

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