segunda-feira, 18 de março de 2013

NAQUELA MESA - GAROTO DE ALUGUEL

Em uma daquelas tardes costumeiras, Aline deu uma ideia para o grupo de amigas que estava ali reunido: contratar um garoto de programa para animar as coisas.
— Eu não acredito que você está propondo uma coisa dessas! —assustada, respondeu Regina.
— De onde é que vamos tirar um? — perguntou Débora.
— Mas, um garoto de programa? Para que precisamos de um? — questionou Márcia.
— Calma, meninas, foi só uma sugestão… Respirem um pouco enquanto eu vou ali pegar um pouco mais de bebida para todas. — não demorou muito e, ainda com a garrafa de vodca na mão continuou — Não é nada demais, relaxem! Estava pensando em trazer um stripper para quebrar um pouco a rotina.
Todos os tipos de questionamentos acompanharam Aline nos minutos que sucederam a proposta. Como viu que as amigas não estavam levando a ideia com bons olhos, resolveu apelar:
—“Prestenção”, meninas! Se vocês não querem, tudo bem. Ninguém vai morrer. Eu já devia imaginar que vocês não teriam coragem mesmo. Ficam aí dando discurso de que são independentes e modernas, mas na hora de mostrar quem são continuam sendo as mesmas “Amélias” do passado.
O discurso convenceu Débora e Márcia, mas Regina preferiu ir embora, não quis compactuar da ideia. Achou que chamar um garoto de programa um tanto quanto desmedido.
— Deixa de bobagem, Regina! Só vamos brincar um pouquinho com ele. Fica, vai…
O pedido foi em vão. Ela estava decidida e antes que as amigas fizessem mais chantagem emocional pegou as chaves do carro e foi embora.
Regina só não esperava o que aconteceu quando a noite caiu. Tomada por uma crise de consciência, se arrependeu de não ter ficado na casa de Aline. Logo ela, uma das principais defensoras informais do feminismo.
Em todas as discussões, não importando quem estivesse presente, sua posição em defesa da liberdade de escolha das mulheres era conhecida. Em sua opinião, as mulheres haveriam de ter os mesmos “direitos” que os homens. Não poderiam ficar rotuladas por sua conduta referente aos seus parceiros sexuais.
Sozinha, em casa, Regina teve o seu momento de raiva. Raiva de pregar um discurso e exercer outra prática. Claro que suas amigas não iriam deixar barato aquela amarelada, mas nem era isso que a preocupava, o pior mesmo era o seu conflito interno.
Já que viu que não teria sossego se não tomasse uma providência, decidiu dar uma guinada na situação. Ligou para Aline.
— Amiga…
— Regina, se for para me dar um sermão nem comece! Ele já foi embora… — antecipou Aline.
—Não liguei para reclamar, na verdade pensei melhor e…
— Já sei! — Interrompeu a amiga — Você quer se desculpar por ter amarelado, não é?
— Mais do que isso. Quero o telefone dele.
Aline se surpreendeu, porém não teria porque negar aquele pedido. Cerca de uma hora e meia depois o tal rapaz estava dançando no apartamento da Regina, como se estivesse em uma casa de espetáculos, vestido de policial. Tinha certo trejeito feminino, mas não importava. Para o que ela queria, iria servir.
Depois do show particular, Regina serviu um jantar que nenhum namorado seu teve direito. Agia como se quisesse impressionar o garoto de programa, mas as reações dele não pareciam lá grande coisa. Ao vê-la começar a servir uma taça de espumante, disse que preferia cerveja.
Qualquer pessoa já veria aí um indicativo do que seria o restante da noite, mas Regina parecia querer provar a todo custo sua independência e não seria uma “ogrisse” que estragaria seus planos.
Terminado o jantar foram para o quarto, pagou o rapaz e finalmente a coisa toda aconteceu. Apesar de ficar o tempo todo pensando que o contratado deveria fazer mais programas com homens do que com mulheres, ela conseguiu atingir o êxtase. O sujeito sequer tirou as botas.
Mal Regina terminou de suspirar, ganhou um beijo na testa e um aviso de que o garoto tinha outro compromisso marcado.
— Como assim, você já vai?
— É o padrão. Eu chego, você paga, nós transamos e eu vou embora. — e ainda completou em um inglês macarrônico — Just business, baby.
— Mas eu queria dormir de conchinha!
— Dormir de conchinha só com meu namorado…
— Faz pelo menos uma coisa para mim? Só uma! Depois prometo que te deixo ir embora! — o rapaz acenou positivamente com a cabeça, mesmo fazendo a maior cara de quem comeu e não gostou — Quando você levantou eu vi uma barata saindo do banheiro. Pode matar ela antes de sair?
— De jeito nenhum, morro de nojo de baratas. Você não conhece nenhum homem que possa fazer o serviço?
Regina descobriu nesse dia que todo feminismo tem lá suas vírgulas e algumas reticências.
F: Marcelo Vitorino

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