Eleições 2010
Por Fábio Augusto Melo Assunção*
Tá. Eu sei, eu sei. Ninguém quer saber de eleições. Todo mundo está cansado em ver políticos corruptos, este assunto está desgastado, temos que nos virar sozinhos para garantir sobrevivência e segurança. Além disso, a saúde em vários municípios está sucateada, a educação não é mais àquela de 40, 50 anos atrás, e os conselhos estão degringolando. A mídia nos lembra diariamente de roubos de políticos, da falta de compromisso representativo, de falcatruas descabidas envolvendo pessoas de influência. Mas não adianta. Não há como discutir processos representativos, fortalecer a tal da democracia, emancipar o país sublinhando a cidadania, sem falar em política.
Costumo dizer para as pessoas que todo mundo é político. Que há uma enorme diferença entre político e politicagem. Que a segunda é a parte ruim da coisa, e que a primeira é o que fazemos diariamente. Lembro que realizamos política no menor espaço na nossa casa, quando perguntamos para nossos familiares como foi seu dia por exemplo. Eles nos contam, nós opinamos, e nos aproximamos dos entes. Lembro que quando nos deslocamos, nos mostramos políticos, cumprimentando ou não as pessoas, enfrentando um trânsito dinâmico e sintônico, indo para o trabalho. Nos momentos cotidianos somos sempre mostrados e vistos. Sendo assim, estabelecemos um diálogo. Frequente e incansável. Eu particularmente, denomino isso de política. O exercício do diálogo. Mas não somos educados a pensar na política assim. Sempre nos apontam a parte desgastada.
Apesar deste abismo entre definição e falsa prática da política, no que diz respeito à sua compreensão por parte de todos nós, ainda assim temos que votar de dois em dois anos. Votar para muitos é uma obrigação cívica. Não significa nada pois as políticas públicas não alcançam o cidadão. Mas não tem jeito. Nossa ultra-urna-moderna está lá nos esperando (algumas vão até ao nosso encontro).
Sinceramente, eu gosto de política – se nos embasarmos na definição do exercício dela. E também gosto de eleições. E nosso país realiza uma das maiores eleições de 4 em 4 anos. A de agora. A escolha é: Presidente, Senadores, e Deputados Federais, Estaduais e Distritais. É muita gente para nos representar. Infelizmente alguns contextos deste processo eleitoral ainda herdam métodos não democráticos de participação. É o caso da Propaganda Eleitoral Obrigatória. Conheço pessoas que adoram assisti-las. Não para observar o conteúdo das propostas dos candidatos, mas sim para rir de ideias mirabolantes e humorísticas para a conquista do voto.
De qualquer forma, as eleições iniciaram. E com elas mais uma chance do voto. Temos um histórico de votos no nosso país. Histórico de votos é na verdade histórico de acertos e erros. Participarei deste momento novamente, como fiz nas eleições anteriores. Sobretudo porque agora, para a Presidência da República temos três linhas que se parecem diferentes. A primeira do continuísmo do inchaço estatal, na matriz neoliberal econômica para não quebrar o Estado; a segunda, assumidamente liberal, com o discurso da primeira de 20 anos atrás; e a terceira, ideológica, com as sugestões de instituições cristãs transvestidas de preocupação ambiental. Todas se diferem de um jeito igual. Entretanto são diferentes pois se colocam num momento político completamente novo frente às eleições anteriores. O momento de um País que grita força sem saber se realmente a tem. Que chama o mundo para observar sua vontade de ser líder com sua exorbitante diferença social. Que recria processos eurocêntricos com roupagem latino-americana. Que emancipa de seu continente cada vez mais para se tornar um líder de referência em sucesso. Este é o Brasil de agora. E sendo este o momento, acredito que esta é uma das eleições mais importantes para o seu futuro. Não pela multiplicidade ideológica, mas pela aposta, pelo jogo que se está entrando. O jogo de colocar os brasileiros de uma vez por todas aos olhos do mundo, revelando suas forças e suas fragilidades. Apontando um projeto político de tentativa e erro. O que pode ocasionar numa assertividade ou num colapso social mais complexo envolvendo a comunidade internacional. Chegou a hora de deixar de fingir ser terceiro mundo - mesmo sendo - e nos posicionar como um país de influência. Qual será o preço disso? Como vamos resolver nossas vulnerabilidades sociais? Quem vai pagar a conta desta vez?
(*) Fábio Augusto Melo Assunção, 34, é Cientista Social, formado pela UNESP - Marília/SP. Tem interesses e experiência profissional como Sociólogo e Cientistas Social nas áreas: Filosofia, Política, Controle Social, Democracia Participativa, e-Gov, Interoperabilidade, Trabalho em Rede, Saúde na América Latina, Análise de Indicadores Sócio-econômicos, Sociologia e Meio Ambiente. Graduado pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas – Departamento de Sociologia da UNESP.
Um texto muito bom, diferentemente de muitos dos nossos candidatos às eleições 2010, totalmente sem conteúdo! Bom seria, se pelo menos, uma parte dos brasieiros pensassem como o Fábio. Infelizmente essa não é a nossa realidade - ainda!...
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