Antes da posse, Palocci assume ar de superministro
No meio a uma conversa sobre pendências administrativas da pasta da Defesa, Lula inquiriu Nelson Jobim sobre um assunto paralelo:
– A Dilma já te procurou?
– Não, quem esteve comigo foi o Palocci.
– Precisamos resolver logo isso.
Falavam do futuro do Ministério da Defesa. Lula deseja que Jobim seja mantido no cargo. Antes de se decidir, Dilma Rousseff acionou Antonio Palocci. A presença de Palocci na montagem do novo ministério tornou-se corriqueira. Antes mesmo de ser oficializado na Casa Civil, virou titular das sondagens.
Palocci passa mais tempo na Granja do Torto, residência provisória de Dilma, do que no CCBB, sede da transição de governo. Ele acompanha Dilma nas refeições do Alvorada, durante as quais os nomes dos futuros ministros são submetidos a Lula.
Na conversa com Jobim, relatada pelo ministro da Defesa a amigos, Palocci perguntou se o interlocutor tinha interesse em se manter no cargo. Jobim respondeu que o interesse tem de partir de Dilma, não dele. Se a presidente o quiser no posto, deve expor seus planos. Ele, então, dirá se fica ou não. Levada por Palocci a Dilma, a prosa de Jobim não agradou. E ela, a despeito da ansiedade de Lula, ainda não o procurou. Se pudesse, Dilma já teria riscado Jobim de sua lista. Faria com ele o que fez com Henrique Meirelles, cujo descarte também foi precedido de contatos com Palocci.
O problema é que, diferententemente do que ocorreu no caso do BC, Dilma ainda não encontrou um Alexandre Tombini para a Defesa. Faltam-lhe nomes.
De concreto, por ora, apenas uma evidência: sob Dilma Rousseff haverá dois tipos de ministro – Palocci e os outros.
Depois de compartilhar com Lula o receio de concentrar poderes no quarto andar do Planalto, onde funciona a Casa Civil, Dilma decidiu correr o risco.
A sucessora de Lula cuidou de retirar dos escaninhos da Casa Civil o PAC e o Minha Casa, Minha Vida, programas que a fizeram poderosa. Ainda assim, Palocci comandará no gabinete do quarto andar um arranjo semelhante ao que produziu a ruína de José Dirceu, o ex-“técnico do time” no primeiro reinado de Lula.
Além das atribuições de gerente da Esplanada, Palocci acumulará uma função que Dilma não exerceu sob Lula: a articulação política. Nessa matéria, a julgar pelas credenciais que atribuiu a Palocci já na transição, Dilma dotou-o da principal característica dos superministros. Outorgou-lhe a voz.
O titular da Casa Civil é o último anteparo entre as demandas e a maçaneta da sala presidencial.
Tomado pelos poderes que exige hoje, Palocci flerta com o risco de confundir a delegação com a propriedade da voz.
Em benefício de Palocci, há o fato de que ele, por discreto, não é dado aos rompantes de exibicionismo que ajudaram a compor a desgraça de Dirceu. Em desfavor de Palocci, há a evidência de que, assim como o Dirceu pré-mensalão, ele cultiva um projeto político solitário. Algo que o “caseirogate” não dissipou.
Dilma também alçou vôo da Casa Civil para a candidatura presidencial. Mas foi Lula quem lhe deu as asas. Com Palocci dá-se coisa diversa. Ele prestará assessoria a uma presidente que enxerga a reeleição no horizonte de 2014.
Considerando-se o modo como levou Meirelles ao microndas e a aversão que nutre por Jobim, Dilma não parece afeita à ideia de dividir o gramado com outras palmeiras.
Palocci, por acomodatício, pode contrariar a escrita. Mas sua presença na Casa Civil é, até prova em contrário, uma crise esperando para acontecer.
Fonte: correiopop.wordpress.com
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