sábado, 12 de março de 2011

SELEÇÃO DE TEXTOS PARA LEITURA DE CABO A RABO


"Politraumatizado
Dr Neto Correia
SAÚDE (I)  -  2007
Neto Correia
Médico ortopedista e traumatologista.

Muito tem sido falado que alguém que sofreu um acidente grave e que é considerado um politraumatizado.
Pela própria etimologia da palavra – poli (múltiplos) e trauma (traumatismo, pancada, impacto) – se verifica que alguém foi vítima de muitos traumas em diversas partes do corpo.
Antigamente, quando se falava em trauma, imediatamente se pensava que o individuo tinha sofrido fratura em alguma parte do corpo. Hoje o conceito do trauma abrange não somente o aparelho ósseo, mas também os traumas abdominais (barriga), traumas torácico ou cerebral (cabeça).
Atualmente, existem nos bons hospitais os centros de atendimento ao politraumatizado, especificamente para atendimento das pessoas que foram vítimas de muitos traumatismos em diversos pontos do corpo. Esses hospitais têm uma equipe especializada composta por diversos especialistas, sendo principais: anestesistas, cirurgião geral, neurocirurgião, cirurgião vascular, clínico intensivista, traumatologista, equipe de enfermagem, psicólogo, nutricionista e até fisioterapeuta numa fase mais tardia após o atendimento de urgência e emergência.
Por que essa gama de profissionais multidisciplinar? Em primeiro lugar, quando o politraumatizado chega ao pronto socorro, a equipe tem a preocupação imediata de verificar as condições clínicas gerais do paciente no que tange ao aparelho cardiorespiratório (se está respirando bem e se os batimentos cardíacos estão normais) e o controle da pressão arterial.
 O cirurgião geral vai à procura de alguma lesão interna (pulmão, fígado, baço, estomago, intestino, bexiga, etc).  Na sua avaliação este cirurgião juntamente com um clínico, que é também intensivista (médico que trabalha em U.T.I. – Unidade de Terapia Intensiva), vão decidir o passo seguinte a ser tomado pela equipe em benefício do paciente. Se houver lesão interna, que determine um sangramento, o paciente é encaminhado imediatamente para o centro cirúrgico para se submeter à intervenção, sob o risco de vir a falecer por anemia aguda (falta de sangue nas artérias e veias).
Como estamos vendo, não é o que pensa muita gente, que acha que o primeiro atendimento deve ser feito pelo traumatologista, quando não o é. Como estamos entendendo, é muito importante que um politraumatizado seja atendido em um hospital que tenha uma boa equipe, com profissionais das diversas especialidades citadas, pois assim suas chances de sobrevivência são muito maiores do que em um pronto socorro qualquer. Sempre digo à minha família, que se acontecer algum acidente comigo, me leve imediatamente para ser atendido no Hospital Walfredo Gurgel [Maior hospital público do Estado], porque sei que lá é o único hospital de Natal e Rio Grande do Norte a ter uma equipe técnica e treinada para prestar os primeiros socorros a uma pessoa que precise de atendimento de urgência e emergência (que corre risco de morte).
Este é outro conceito errôneo, que o leigo pensa que o Walfredo Gurgel não é o melhor hospital para este tipo de atendimento. Muita gente tem me solicitado que em caso de acidente o leve imediatamente para o ITORN [Ex - Instituto de Traumatologia e Ortopedia do RN Ltda - Existente em 2007], e eu lhe respondo sempre que as melhores condições técnicas e profissionais nós vamos encontrar no Hospital Walfredo Gurgel, pois lá a equipe multidisciplinar de profissionais se encontra de plantão nas 24 horas do dia. O Walfredo Gurgel tem um setor específico para o atendimento do politraumatizado, com toda a estrutura física voltada para inclusive para ressuscitação do paciente (quando ele chega com a respiração e o coração sem funcionarem).
O politraumatizado mais grave é aquele que sofreu trauma craniano (cabeça), pois geralmente o paciente já chega em coma profundo (desacordado e sem consciência), muitas vezes sem condições de se submeter a uma anestesia geral. Outro trauma também considerado grave são os que ocorrem com pacientes com lesão da coluna vertebral, principalmente na região cervical (pescoço) e aqueles que sofreram muitas fraturas expostas (com osso fora da pele), com grandes hemorragias (perda de sangue) e muitas vezes em anemia aguda.
Trabalhei por 15 anos, como médico plantonista, na especialidade de traumatologia no Walfredo Gurgel e assisti muitas pessoas sobreviverem a um politrauma por terem tido os primeiros socorros lá, embora após 5 ou mais dias serem transferidos para outros hospitais para se submeter a cirurgias complementares, não mais sobre risco de morte.
Quando escrevo sobre saúde lembro uma frase de um antigo professor, Dr. Eudes Moura, quando disse: “As especialidades médicas mais exigidas do futuro serão a Traumatologia e a Psiquiatria.” E quando lhe perguntei o porquê, ele então me disse que a cada dia os automóveis serão mais rápidos, e o estresse iria levar muita gente à loucura. É o homem brigando com a máquina e ficando doido pelo estresse do mundo moderno"

Nota do Blog:
Artigo publicado pelo Jornal Cajarana (Santana do Matos) em 2007 


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