sábado, 5 de março de 2011

ZANGÃO, O LOBO/RAPOSA COMO CORDEIRO DO SERTÃO

O Lobo Raposa transparece a candura do cordeiro

Categoria:
Conto/parábola sertaneja
Dutra Assunção

O Zangão camuflado nas caatingas de Santana do Matos

Zé do Mulungu procurou o velho Zangão por todo o pé de serra. O município vivia um momento de progresso, e ele queria conversar sobre a política local ... saber das novidades, de suas idéias, mais precisamente sobre 2222. Zé do Mulungu trabalhou os últimos cinco anos na Serra do Mel e andava meio falante, tentando explicar o que era o associativismo do além fronteiras.

Persistente, Zé do Mulungu encontrou o “Zangão” na casa grande de uma de suas fazendas ao pé do serrote letrado, naquele mês o xique-xique encharcado e as juremas verdes eram bons sinais de um inverno promissor para 2221, - estava ele contando os bois. – “Zangão! 2222 está próximo! Precisamos agir, definir os pré-candidatos, quem vai ser nosso próximo prefeito? Perguntou Zé do Mulungu.

Zangão apontando, ligeiro e em sequência numérica continuou contando as reses encurraladas – “Zangão, minha raposa dócil, aprendi com seus ensinamentos, não devemos esmorecer, mesmo nos anos de seca, somos responsáveis por esses rebanhos e por aqueles que vão nos governar”, disse Zé do Mulungu e repetiu: quem são nossos candidatos?

Terminado a contagem, a porteira aberta, o magote de gado seguia em escaramuças a beira da cerca rumo ao pé de serra.  Zangão com a masca de fumo ensopada, em trejeitos faciais cospe a gorda como extrato descartável da substância entorpecente já absorvida. – Matuto toda boca de noite, naquela rede no alpendre, disse Zangão. Peço a Nossa Senhora Sant’Ana que ilumine aqueles que não alcançarão o sucesso. As pilastras de pedra são grandes a proteger os mais fortes e em barro com areia e salitre são feitas as proteções dos pobres. Precisamos ajudar a Chico dos Cabritos, meu vizinho nas Pororocas, aqueles coitados das esquinas de rua que não avistam um clarão de lamparina, cada um deve fazer a sua parte, os sonhos não salvam o mundo, somos sim, salvos por nós mesmos. Uma alegria, uma festa, uma amizade, um churrasco, uma bebida amenizam os sofrimentos.

Agora dirigindo-se com semblante de profeta Zangão põe a mão no ombro de Zé do Mulungu e disse: “volte para casa, faça o possível, o máximo que você pode no seu lugar, essas suas idéias de associação não tiram a cor cinza do juremal na seca, precisamos sim, unirmos e enfrentarmos as dificuldades que eles nunca sentirão, isso sim é a nossa política, assim fomos e sempre seremos uma simples fatia a ser disputada pelos governantes. Agora vamos tomar um café, esperar o almoço e conversar. Quero saber as novidades da redondeza. Zé do Mulungu convencido, sobe os degraus do alpendre, o mormaço já é forte as 10:00h, ao virar-se depara com a vista panorâmica, a silhueta da serra grande convida a um trago e a manhã passa rápida, o almoço farto, os compromissos assumidos, valores constatados renováveis, contestados ou não, uma realidade do nosso sertão.

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