Luiz Inácio Lula da Silva é como seu time de coração: ou é demasiadamente amado ou odiado. Exagero é um erro proporcional de qualquer lado. Como todo mundo, seus acertos deveriam ser reconhecidos, enaltecidos e apoiados, e seus erros reprovados e apenados, quando necessários. Mas um dos seus acertos foi a alardeada escolha de um negro para a Suprema Corte de Justiça desse país, o que nunca tinha ocorrido antes na sua história. Pena que foi um caso isolado e que tenha sido colocada como um gesto de benevolência.
Joaquim
Barbosa sempre fez jus a sua indicação. Primeiro, não reforça gratidão por ter
sido um negro escolhido ministro; ao contrário, se posiciona como um conhecedor
profundo da judicatura e das suas atribuições. Mas não é pelo conhecimento
jurídico e pela sua cultura incontestáveis que ele se destaca. É acima de tudo
pela coragem como vem apontando e tentando combater as mazelas do Poder
Judiciário e dos demais Poderes.
Numa
palestra recente no Instituto de Educação Superior de Brasília, ele disse que
os partidos políticos são de mentirinha, que as pessoas não se identificam com
eles e que o Congresso Nacional é ineficiente e totalmente dominado pelo
Executivo. Não é de hoje que nada disso é novidade para ninguém. A recente aprovação
da Medida Provisória dos Portos mostra que o Congresso se tornou um órgão
chancelador do que interessa ao Planalto, com a contraproposta de emendas
aprovadas, cuja aplicação deveriam ser melhor acompanhadas pelos órgãos de
fiscalização.
Quanto à falta
de identidade das pessoas é de uma obviedade ululante. Ninguém sabe para que
serve um partido, a não ser indicar seus "proprietários" a cargos
eletivos. Muitos integrantes nem sequer sabem que estão filiados. Nenhuma
agremiação tem qualquer atividade fática, nem difunde suas ideologias, uma vez
que estas definitivamente não existem. A indicação do vice-governador da
oposição como ministro da situação aponta o tamanho do comprometimento
ideológico predominante, tanto da oposição quanto do governo.
Houve
reações veementes no sentido de que essas manifestações não contribuem para a
democracia; outras apontando que o ilustre ministro não está à altura do cargo.
Ora, essa gente está acostumada a confrarias interesseiras e a um convívio
hierárquico, onde a presidenta da República está acima dos presidentes dos
demais poderes. O ministro prefere exercer sua presidência de forma
independente.
Muitos
apostam num ministro encolhido, pois afinal é negro e veio de uma família
pobre. Joaquim Barbosa sabe que não conseguiu nada de favor de ninguém, nem
mesmo da sociedade. Se ele deve a alguém é somente aos seus pais, que além de
uma educação formal adequada, lhe ensinaram valores acima disso, principalmente
o de não se curvar a ninguém, nem mesmo perante uma casta de privilegiados que
não está acostumada com quem tem autonomia para falar sem receios.
Só não pegou
bem para a assessoria do Supremo Tribunal Federal tentar amenizar as críticas
do ministro ao afirmar que não tinha a intenção de ofender o Congresso. Ninguém
tem o poder de evitar que alguém vista a carapuça. A democracia tem defeito e a
nossa tem um por princípio: o voto, seu principal instrumento, ainda é
obrigatório.
Ministro
Joaquim Barbosa: seu passado, sua luta, sua integridade pessoal, seu
conhecimento jurídico, sua capacidade de gestor, em resumo, sua biografia não
permite se curvar a ninguém neste país. A sociedade está com Vossa Excelência.
Não te cales, Joaquinzão!
F: Pedro Cardoso da Costa
Interlagos/SP
Bacharel em direito
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