domingo, 17 de outubro de 2010

FESTA DO REENCONTRO EM JOÃO CÂMARA REVITALIZA A SAGA DOS BAIXA-VERDENSES


Baixa-verdenses realizam Festa do Reencontro em João Câmara

Os baixa-verdenses que moram fora das origens poderão compartilhar no próximo dia 24, (domingo) da “Festa do Reencontro”. Esse ano as comemorações serão realizadas em João Câmara. A confraternização começa a partir do meio dia em almoço no clube de bancários da AABB, ocasião onde os patrícios em reunião comemoram o centenário de fundação do município de João Câmara, relembrando grandes momentos pelos acordes da Banda Anos 60.

Origens de Baixa Verde
Dados pesquisados sobre a história da região

Situada a 75 quilômetros de Natal, em plena região do Mato Grande, a cidade de João Câmara, hoje com população aproximada de 31 mil habitantes, era no início do século passado um local onde só havia mata e bichos.
Antiga Estação de Trem
Valho-me das luzes dos historiadores Luís da Câmara Cascudo (História de um Homem), Paulo Pereira dos Santos (Baixa-Verde: retalhos de sua história) e Paulo Alexandre da Silva (Baixa-Verde - Ontem, Hoje e Amanhã), do memorialista conterrâneo e desembargador João Maria Furtado (Vertentes) e dos relatos que me foram trazidos pelos meus antepassados, para fazer chegar aos ilustres leitores deste Jornal de Hoje como surgiu o aglomerado humano que deu origem à cidade de Baixa-Verde, hoje João Câmara.

Situada a 75 quilômetros de Natal, em plena região do Mato Grande, a cidade de João Câmara, hoje com população aproximada de 21 mil habitantes, era no início do século passado um local onde só havia mata e bichos. O povoado mais próximo, Assunção, distava três quilômetros ao norte. Na direção oeste, a uns dez quilômetros, ficava a comunidade do Amarelão dos Mendonças, composta por descendentes de índios tupis e negros. O resto, numa área de várias léguas, era só mata virgem, com raras fazendas de gado e plantações de algodão, a quilômetros umas das outras.

Em Assunção havia uma rua e um comércio florescente, realizando-se feira-livre aos sábados, Ali moravam Alfredo Edeltrudes de Souza, Ismael Maurício da Silveira. Joaquim Câmara e João Batista Furtado que exploravam o comércio e a agricultura. Joaquim Câmara possuía uma “bolandeira” que descaroçava algodão e remetia para os centros mais desenvolvidos. Tudo fazia crer que, em poucos anos, aquela comunidade seria um núcleo populacional respeitável ou, quem sabe, uma nova cidade.

O destino de Assunção tomou novo rumo quando a rede ferroviária que adentrava ao sertão, partindo de Natal, desconsiderando a importância social e econômica do núcleo populacional existente, resolveu passar seus trilhos a uma distância de três quilômetros ao sul, num lugar conhecido apenas como Matas. Ninguém sabe ao certo o porquê de tal decisão.

Os trilhos chegaram a Matas em 12 de outubro de 1910 e a estação foi instalada provisoriamente em um vagão de trem. À frente do empreendimento o engenheiro Antônio Proença, que, apreciando o local, resolveu ali estabelecer-se. Tratou de construir casa e plantar algodão, fixando-se na terra em caráter permanente. A estrada de ferro, que estava sendo construída pela firma Proença & Gouveia, num regime de arrendamento por sessenta anos, seguiu seu curso na direção de Lajes, mas Antônio Proença, um dos sócios do empreendimento, ficou administrando os serviços a partir do local que havia escolhido como ponto de apoio.

Aos poucos o lugar foi sendo povoado. Cossacos, pequenos comerciantes e agricultores foram se instalando nas imediações da estação ferroviária. Uma nova povoação estava surgindo. Antônio Proença foi o grande incentivador da formação urbanística da cidade que estava surgindo: traçou as linhas das primeiras ruas, construiu a capela de Nossa Senhora Mãe dos Homens, cavou cacimbas e ergueu as primeiras casas.

O desenvolvimento do lugar chamou a atenção de quantos procuravam oportunidades de ganhos. Assunção foi aos poucos se esvaziando. Seus maiores comerciantes foram abandonando o lugar e se deslocando para a nova povoação ou para outras localidades. João Batista Furtado (pai de João Maria Furtado, avô de Roberto Furtado) e Ismael Maurício da Silveira estabeleceram-se logo no novo povoado. Joaquim Câmara deixou também Assunção, mas preferiu ir para Cauassu, uma pequena comunidade situada a doze quilômetros a oeste, que não possuía mais que três ou quatro casas, onde só tinha a alternativa de explorar a agro-pecuária. Comércio ali era impossível, pois não havia gente para comprar. Alfredo Edeltrudes, também em busca de melhores dias, arrendou um engenho em Ceará-Mirim e depois comprou uma propriedade chamada Quintas, em Natal, que veio a tornar-se bairro com o mesmo nome e para lá mudou-se. Já como Prefeito, encontrei Assunção, sessenta anos depois, como uma povoação fantasma, onde só havia, salvo umas poucas casas simples, alicerces de construções antigas e um velho cemitério abandonado, com as grossas paredes de pedras em ruínas, coberto de mato.

Um dos filhos de Joaquim Câmara, Câmara Filho, sentindo a impossibilidade de fazer vida em Cauassu, preferiu partir para o centro-oeste do país, fixando-se em Goiânia, onde chegou a ser secretário de estado. Logo depois, seguindo os passos do irmão, para lá se deslocaram Rebouças e Jaime Câmara, que foi Prefeito de Goiânia e deputado federal pelo estado de Goiás. Os irmãos Câmara construíram em Goiás um invejável complexo de comunicação, formado por emissoras de rádio, televisão, jornais e gráficas que se estenderam por todo o estado, inclusive à parte norte, atualmente estado do Tocantins, chegando ao Distrito Federal.. Dentre os veículos de maior envergadura, destacam-se os jornais O Popular, de Goiânia, e o Jornal de Brasília, além da TV Anhanguera, afiliada à rede globo.

Enquanto isso, de outras regiões do estado, pessoas ávidas por melhores oportunidades de ganhos deslocavam-se para Baixa-Verde. Atraiam-nas a localização estratégica do lugar, porta de entrada da região denominada de Mato Grande, com milhares de hectares de terras devolutas, porém de boa qualidade, próprias para o plantio de qualquer lavoura, mormente o algodão, chamado de “ouro branco”, tal o seu valor e importância no contexto econômico da época. Sendo terras devolutas, e por isso mesmo tidas como sem dono, qualquer pessoa poderia demarcar a sua área, cercar quantos hectares achasse que poderia cuidar. O horizonte era o limite. Foi para esse novo eldorado que foram homens como Fernando Gomes Pedrosa e João Severiano da Câmara.

Fernando Pedrosa (pai do ex-governador Sílvio Pedrosa), instalou-se na região logo após a chegada dos trilhos da rede ferroviária, plantando algodão num lugar denominado “ barriguda” (que tinha de fato uma grande árvore com esse nome à margem da estrada, criminosamente derrubada há uns vinte anos por ocasião do asfaltamento da estrada João Câmara/Caiçara do Norte).

João Severiano da Câmara chegou em 06 de junho de 1914, tendo ao seu lado o irmão Jerônimo, conhecido como Loló. Alexandre, outro irmão, veio depois. Os três, depois de anos a fio explorando a agricultura e o comércio, fundaram a firma João Câmara e Irmãos. Câmara Cascudo nos dá conta da existência de dois pequenos comerciantes: José Antunes de França, cuja vendinha ficava perto da Igrejinha e Luiz Cordeiro, conhecido como “Luiz Rei de França”, que negociava na esquina da futura pracinha.

No dizer de Câmara Cascudo, “a Estrada de Ferro ocupava duas grandes turmas de trabalhadores, uma na Melancia e outra batendo o malho nas pedreiras do Torreão. Pagos, vinham derramar o saldo em Baixa-Verde, bebendo até a náusea, comprando tudo e brigando por cousa nenhuma. Não havia policiamento, nem defesa. A povoação não tinha ruas, apenas os alinhamentos riscados pela mão grossa do Dr. Proença”.

Como já tive a oportunidade de mencionar anteriormente, os habitantes de Assunção chamavam o lugar onde a estrada de ferro se instalara simplesmente de Matas, porém os novos habitantes preferiram denominá-lo de Baixa-Verde, por situar-se em uma região de baixo relevo e solo arenoso, coberto por uma gramínea sempre verde, mesmo nas épocas de secas mais intensas. Coube ao Dr. Antônio Proença oficializar o nome Baixa-Verde apondo-o na fachada da Estação Ferroviária que construíra. Na chamada “graminha”, até os vinte e cinco anos, joguei “peladas” inesquecíveis.

Com o passar dos anos, ironicamente, Assunção passou a ser chamada pelos habitantes da nova povoação de “Baixa-Verde Velha”, denominação que não se consolidou, mas que persistiu no falar cotidiano até uns trinta anos atrás.

Pouco depois da chegada da estrada de ferro, chegaram a Baixa-Verde, entre os anos de 1915 e 1920, meu avô, Pedro Torquato, vindo da região conhecida como beira-do-rio e Antônio Justino de Souza, entre tantos outros desbravadores. Foi também por aquele tempo que nasceu no lugar um menino a quem os pais deram o nome de Gumercindo Saraiva, que se fez músico, comerciante e folclorista, há alguns anos falecido em Natal, onde ainda moram sua esposa e seus filhos. Gumercindo foi amigo de infância de meu pai, Abdon Torquato. Devemos a esta saga de homens acostumados ao trabalho duro, que se iniciava com os primeiros raios de sol e só terminava ao escurecer, arrancando mato com a força dos seus braços, esfolando as mãos, queimando a pele, dormindo muitas vezes no meio do roçado em cabanas improvisadas cobertas de capim e galhos de árvores, a construção dos alicerces daquela que seria a capital da região do mato grande, elevada à condição de cidade, sede do município do mesmo nome, pela Lei nº 697, de 29 de outubro de 1928, promulgada pelo então governador Juvenal Lamartine de Faria. Seu território foi constituído inicialmente por partes de terras desmembradas dos municípios de Taipu, Touros e Lages, e estendia-se até os mares do norte, açambarcando os povoados de Parazinho, Pedra Grande, São Bento do Norte, Caiçara e Galinhos.

Fonte: Notícia veiculada em Blogs e Informações
extraídas do livro Baixa-Verde: Fatos, Causos e Coisas
do escritor Aldo Torquato - João Câmra / RN

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