domingo, 19 de junho de 2011

ENTREVISTA - MICARLA DE SOUZA, PREFEITA DE NATAL

Micarla de Souza
Política
Entrevista
Micarla de Souza

A prefeita de Natal, Micarla de Sousa (PV), confessou, em entrevista a ...

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"O Poti/Diário de Natal", que já pensou em desistir da política para voltar às atividades empresariais. No entanto, destacou que isso faz parte do passado e confirmou que permanecerá na vida pública, mesmo contrariando muita gente. "Não entrei na política pensando em morrer como ser humano. Entrei pensando em crescer como gente. Hoje acho que sou uma pessoa muito melhor", declarou. Em um tom mais incisivo do que o usual, Micarla criticou a deputada federal Fátima Bezerra (PT) e a vereadora Sargento Regina (PDT). A prefeita também comentou os protestos do movimento "Fora Micarla", que pede seu impeachment. "A causa democrática não pode ser uma causa para tirar alguém legitimamente eleito pelo povo. Assim, o movimento deixa de ser democrático. Está na contramão da história. Esse tipo de movimento está sendo, neste instante, inflamado por políticos que têm os seus projetos vinculados às eleições de 2012", ponderou.

A senhora reconhece a legitimidade das críticas direcionadas à sua administração?
Com certeza. Reconheço sim, porque inclusive as críticas que vêm a mim são provocadas pela falta de recursos. Na hora de dividir o dinheiro tem recursos para pagar pessoal, merenda, remédios. A gente tem que eleger prioridades. Reclamam da questão dos buracos. Mas, se tivesse que escolher entre mandar dinheiro pra Saúde, pra Educação ou tapar buracos, o que vocês fariam? É igual à casa da gente. Precisa eleger prioridades.

A senhora vive um desgaste administrativo, culminando com os protestos que existem hoje contra a gestão. Qual é o problema com a gestão?
O que aconteceu comigo aconteceu com a maioria dos municípios brasileiros. Nós tinhamos 23% do bolo tributário brasileiro. Hoje, nós temos 17%. Isso fez com que todos os municípios tivessem problemas de ordem orçamentária e financeira. Nós tivemos o problema também da falta de parcerias, do governo do estado e do governo federal, nos dois primeiros anos. Isso fez com que nenhum tipo de recurso chegasse a nossa cidade. Do governo federal, só veio para obras já em andamento. Quando você tem os recursos para administrar é uma coisa. Agora, quando você tem que cortar, cortar e cortar chega um momento que não tem mais nem de onde tirar. Mesmo assim, duvido que alguém na minha situação tivesse conseguido realizar o que realizamos em apenas dois anos. Nossa gestão triplicou o número de Centros de Educação Infantil de Natal. Não atrasamos um só dia o pagamento dos salários e, depois de 20 anos de luta deles, implantamos o Plano de Cargos, Carreira e Salários dos servidores de Natal. Duvido que um gestor com tão poucos recursos tivesse conseguido retirar seis favelas de Natal e dar casas para 3.200 pessoas. Tivesse conseguido entregar obras para a cidade, como a UPA de Pajuçara, a AMES. Enfim, quando você vai vendo todos os pontos que conseguimos avançar,há mais a falta de um compromisso dos políticos com a cidade do que um desgaste administrativo. A população sentiu quando o recurso não veio. Todo e qualquer parlamentar de Natal poderia ter enviado emendas.

A senhora os procurou?
Sempre procurei os parlamentares. De alguns, até recebemos promessas, mas posteriormente o andamento não aconteceu. O fato é que, com algumas exceções, os parlamentares do Rio Grande do Norte não tiveram compromisso com a cidade de Natal. Viram a questão política. Viram a política Micarla de Sousa, como alguém que poderia dificultar um projeto político deles, e acabaram prejudicando a cidade, naquela velha máxima maquiavélica: os fins justificam os meios.

Como a senhora está vendo as manifestações do movimento "For a Micarla"?
Eu respeito todo e qualquer movimento, desde que ele seja ético, respeitoso e democrático. Esses três pontos são fundamentais. Não vejo aqueles jovens como adversários. Acho que eles creem, no íntimo deles, que estão lutando por uma causa. A causa democrática não pode ser uma causa para tirar alguém legitimamente eleito pelo povo. Assim, o movimento deixa de ser democrático. Está na contramão da história. É um movimento antidemocrático. Esse tipo de movimento está sendo, neste instante, inflamado por políticos que têm os seus projetos vinculados às eleições de 2012.

Que políticos são esses?
As bandeiras de todos os partidos envolvidos estavam lá no pátio da Câmara Municipal de Natal. Todos esses políticos que estão aparecendo e demonstrando apoio. É só perguntar a essas pessoas. Eu diria que 99% são candidatos no ano que vem. Então, estão tentando utilizar daqueles jovens para fazer escada, um trampolim para as eleições de 2012. Quais daqueles que colocam seus apoios, que são tão solidários, não são candidatos no próximo ano?

A senhora aceitaria conversar com os manifestantes?
Sim. Já, inclusive, coloquei isso no Twitter. Acho que melhor, muito melhor, é ter uma conversa, mesmo que seja tensa, complicada. Isso faz parte do processo democrático. Que bom que temos pessoas que pensam diferente. Eu atenderia. Já me dispus desde o início. Gostaria de saber qual é a lista de reivindicações. Mas o que recebi até agora foi o silêncio.

Em resposta à sua pergunta de sugestões do movimento para melhorar a cidade, eles sugeriram que a senhora exonere toda sua equipe, renuncie ao cargo e peça desculpas à população de Natal pelo caos administrativo em que, segundo eles, a senhora deixou a cidade. Como a senhora recebe essas sugestões?
Eu fico muito triste com esse posicionamento, porque são jovens, vivendo em um período de democracia, de abertura, e como eles se posicionam de uma forma tão retrógrada, dizendo eu não gosto de você e quero que você saia pedindo desculpas? Eu não tenho do que pedir desculpas. Eu tenho que pedir ajuda. Tenho humildade para pedir ajuda. Não conheço todas as soluções. Soluções se constroem em equipe, com a sociedade ajudando. Não existem mais salvadores da pátria. Hoje, a própria sociedade vê que precisa dar as mãos para construir o futuro que a gente quer. Independentemente de gostar ou não de mim e da minha gestão, todo natalense deveria ajudar. Dizer eu não gosto de você e quero que você saia não ajuda em nada. Isso é muito perigoso, se tratando de jovens, em pleno século 21. Tantos jovens morreram na ditadura lutando para que pudéssemos ter eleições e agora querem acabar com o resultado de uma eleição. Hoje, vários prefeitos sofrem com esse tipo de desgaste. É triste ver, após tanta luta, uma parte pequena da juventude ser usada por políticos que estão pensando nas eleições de 2012.

Durante a semana passada, a deputada federal Fátima Bezerra (PT) usou a tribuna da Câmara Federal para declarar apoio ao movimento e criticar sua gestão. Ao mesmo tempo, existe uma aliança entre sua administração e o governo da presidente Dilma Rousseff (PT). A postura da deputada pode prejudicar essa aliança?
De forma alguma. Quando optei por apoiar, no segundo turno, a candidatura de Dilma, sabia todos os riscos que corria. Sabia do risco de perder o apoio doDEM, mas era algo que tinha a ver com tudo o que eu acreditava. Eu queria uma mulher presidente do Brasil. Eu não a apoiei pensando em colher os louros e me aproximar do PT do estado. Eu sabia que não haveria essa aproximação. Mas a presidente sabe disso desde o início. Eu confesso que não consigo compreender a deputada Fátima Bezerra, que teve comigo uma disputa justa. Eu ganhei e ela poderia ter ganhado. Se ela tivesse saído vencedora, eu teria uma postura diferente, devido ao meu histórico de vida. Mas ela teve uma postura de fazer uma oposição não a Micarla, mas a Natal. Nesses três anos, ela não mandou um real de emendas para a cidade. Anteriormente, ela mandava ano após ano. Uma pessoa que teve mais de 85 mil votos em Natal deveria ter uma postura diferenciada. Mas não cabe a mim julgar. Cabe a cada um fazer sua sentença. Mas a posição do PT aqui não provoca nenhum problema para nossa gestão em Brasília. Eu recebo muito apoio dos membros do PT nacional. Não tenho nenhuma reclamação a fazer do governo dapresidente Dilma em relação à nossa cidade.

O que essa parceria com Dilma trouxe de positivo para Natal?
Não existiu uma troca: você me apoia e eu te darei isso. Não. Mas o que existe hoje é uma boa vontade por parte do governo federal para ajudar a cidade de Natal. Nesse período, conseguimos um financiamento de R$ 338 milhões, facilitado pelo governo federal. Somos agora parceiros, aliados. Nessa gestão da nossa presidente Dilma, vejo que o sonho nosso de transformação de Natal é viável. É possível. Temos uma parceria de verdade.

Logo após a coletiva em que a senhora anunciou que iria entregar todos os contratos de aluguéis ao Ministério Público, o órgão anunciou a abertura do inquérito e a vereadora Sargento Regina disse que há uma investigação da Polícia Federal, envolvendo sua gestão. A prefeitura tem alguma informação sobre esse inquérito?
Há uma verdadeira fábrica de factóides. Eu nunca ouvi falar na minha vida que uma investigação da Polícia Federal pudesse ser colocada assim às claras. A última que existiu, que pegou políticos, empresários, até um jornalista, foi a operação Hígia. Só viemos saber quando a PF chegou e pegou. Então, há uma fábrica de factóides. Eu sei a quem interessa. É tudo voltado para as eleições de 2012. A cada dia é uma história diferente. Dizem que tenho hotel em Portugal, que construí hospital no interior. Tudo criado de uma forma fantasiosa. Sargento Regina precisa ter responsabilidade, pelas coisas que ela coloca, pois ela foi eleita pelo povo para apresentar projetos. Quais foram os projetos verdadeiramente apresentados pela vereadora nos últimos anos? Será que o único projeto que existe da vereadora é criar factóides? É ter que se defender dos vídeos divulgados no Youtube? Qual é o projeto dela nesse momento? Com relação à prefeitura, estou com a consciência tranquila. Quando percebi que a oposição disse que tinha algo bombástico sobre os aluguéis, vi que a própria oposição não quis participar da CEI dos Aluguéis. Ela deveria ter o ônus da prova, pois fez a denúncia. Não cabe à prefeitura se envolver nas prerrogativas do legislativo. Vi que a oposição queria criar factóides em cima disso, eu mesmo resolvi entregar os contratos ao MP, antes da abertura do inquérito.

Então a solicitação do MP foi posterior?
Foi. Chamei a coletiva à noite para que de manhã cedo eu pudesse dar a informação. No final da tarde, é que houve a solicitação.

Com a extinção da CEI dos Aluguéis, a oposição agora requisitou a abertura da CEI dos Contratos. Como a senhora recebeu essa notícia?
Eu não quero de forma alguma interferir no legislativo. A bancada vai decidir o que vai ser feito. Agora, algo eu deixo muito claro. A oposição precisa ter responsabilidade com o que está sendo colocado. Ninguém pense que vou ficar calada, quando estiverem mexendo com a minha moral. Eu digo pra quem quiser: se porventura existir qualquer questão na minha gestão em desacordo com as minhas determinações, eu sou a primeira a mandar abrir sindicância para apurar os problemas. Não se pode é criar uma fábrica de factóides, onde se mexe diretamente com minha moral e da minha gestão. Isso é irresponsabilidade. Onde se justifica a abertura de uma CEI dos Contratos? Onde estão os elementos que mostram indícios de problemas em relação a contratos? São dois pesos e duas medidas. No início da nossa gestão, foi feita a CEI dos medicamentos estragados. A CEI comprovou todos os desmandos que ocorreram no período, enviou ao MP e até hoje não ninguém mais falou nada em relação a isso. Tivemos casos sérios, como o superfaturamento da obra no Machadão. A prefeitura teve que devolver R$ 3,5 milhões. Tivemos problemas com o Parque da Cidade, que foi inaugurado duas vezes com 600 itens incompletos e ninguém fez nada. Agora, com minha gestão, que tem demonstrado toda transparência, estão querendo criar situações que não existem. Eu vou até às últimas. Mas vou defender a minha honra, a minha gestão.

Quando assumiu a prefeitura, a senhora esperava encontrar tanta resistência?
Nunca. Eu cometi alguns crimes inafiançáveis, vamos dizer assim. Até agora, todos aquelesque jogam as pedras não encontraram um crime que eu tenha praticado. Mas eu cometi um crime. Um crime sem fiança. Se pudessem fazer uma fogueira, como na época da inquisição, já tinham me jogado dentro, sem eu saber o porquê. Eu cometi o crime de ser uma mulher que não tem vinculação com nenhum grande partido do nosso estado, não tem nenhum sobrenome de família tradicional. Sou uma plebéia Sousa. Durante esse processo todo, me chamaram para um partido que pudesse me dar mais sombra. Mas não quis. O maior crime que cometi foi não ter aberto a minha administração a alguns negócios que estavam acima dos meus valores e dos meus princípios.

A senhora se arrepende de alguma atitude?
Não. Eu faria tudo de novo. Não me arrependo, pois mais do que a política, o mandato, o pode, está o meu valor. Não abrirei mão jamais. Mas nunca imaginei enfrentar tantas dificuldades. Hoje, quando vejo o que acontece com minha vida pessoal, a tentativa de destruição da minha família, por meio das pichações, das coisas na internet, apequenez que é usada quando se referem a mim. Aí dizem: lá vai ela de novo falar que é mãe e mulher. Mas, eu sou. Eu sou mãe, tenho dois filhos. Tenho orgulho disso. Foi a vontade de fazer alguma coisa para que meus filhos tenham orgulho de mim. Sempre sonhei em ajudar na transformação. Sei que estou ajudando. Mas não imaginava que essas pichações fossem fazer tão mal. Um dia, meu filho chegou em casa e perguntou se eu fumava crack. Essa semana, passei e tinha um xingamento pichado. Meu filho questionou e não soube o que dizer. É muito difícil. Sou de carne e osso.

Em algum momento, a senhora já pensou em desistir?
Sim. Em vários momentos. Mas, eu pensei que não entrei na política pensando em morrer como ser humano. Entrei pensando em crescer como gente. Hoje acho que sou uma pessoa muito melhor. Fui às comunidades ver os sonhos das pessoas humildes. Como por exemplo a situação dos jovens de escolas públicas que não conseguem vagas nas universidades públicas. Criamos o Proeduc e damos bolsas para que eles sejam advogados, médicos, jornalistas, engenheiros, desembargadores... Estou vendo o sonho de muita gente humilde, do filho do trabalhador, virar realidade. Isso é muito gratificante. Quando eu pensei na política sempre pensei dessa forma, de ajudar ao povo. Hoje, eu posso dizer pra população: já pensei em desistir da política, mas não vou desistir. Já pensei, mas é quase que instantâneo: quando vem esse pensamento, ao mesmo tempo, como algo de Deus, me mostra qual é minha missão. Até Jesus pensou em desistir. Imagina eu, pobre mortal.

Já que a senhora disse que não desistirá da política, então a candidatura à reeleição está confirmada?
Isso não é ideia fixa para mim. Hoje, o que eu penso é em trabalhar. Independente de eu ser candidata, quero em 31 dezembro de 2012 olhar para trás e dizer que cumpri minha missão. A isso eu sou candidata, a cumprir minha missão. Eu não vou abrir mão de cumprir o mandato que o povo de Natal me deu. Mas não tenho ideia fixa com a reeleição. O povo vê quase como obrigação, mase, se por algum motivo, eu achar que já cumpri minha missão? É uma questão de foro íntimo e pessoal. O que passa na minha cabeça é que tenho que trabalhar.

Até que ponto a senhora credita o desgaste que enfrenta hoje ao isolamento político?
Eu não briguei com todo mundo. Mas todo mundo, quando teve seus interesses contrariados, procurou seus projetos. Eu só tive três mandatos e cheguei ao cargo mais alto de Natal. Antes de mim, sem sobrenome, só Aldo Tinoco havia conseguido chegar à prefeitura e também sofreu pra caramba. Então, estou tranquila. Sempre encarei a política de forma diferente. Por exemplo, quando você falou de reeleição. Se eu fosse uma política tradicional, convencional, preocupada só com a reeleição, tem uma fórmula simplérrima: jardim bonitinho mais praça pintadinha e aquele asfalto cinza na cidade é igual à reeleição. Eu em nenhum momento fui por esse caminho. Fui pelo caminho de triplicar os centros de educação infantil, criei a Unidade de Pronto Atendimento (UPA), tirei o Sandra Celestedaquela situação, coloquei o Hospital da Mulher para funcionar, dei bolsa para 10 mil estudantes no Proeduc, tirei mais de três mil pessoas de favelas e coloquei em casas próprias. Hoje vejo que isso não é convencional. O convencional é pegar todos os recursos que você tem e investir em asfalto. Também estou investindo no servidor. A folha vai aumentar R$ 250 milhões. Com isso, poderia fazer uma ponte. Mas, preferi investir em gente. Eu dizia isso no programa eleitoral, que não seria prefeita de asfalto nem de concreto, que iria cuidar de gente. Se hoje existem todos esses problemas, tenho certeza que a história me fará Justiça.

A senhora espera reverter essas adversidades que existem hoje ou está preparada para governar até o fim com esse problema de rejeição popular?
O Brasil é um país em que um ano é eleitoral e o outro pré-eleitoral. Vivemos em uma campanha constante. Advogo que tenhamos eleições gerais e mandatos de cinco anos, sem reeleição, dentro dessa Reforma Política. Esse clima de eleição não fazbem. O normal é que os que me veem como adversária aumente a artilharia contra mim. A única coisa que eu pediria era para que... Podem mirar em mim. Eu mato no peito e vou jogar e jogar limpo. Mas que me deixem trabalhar, que parem com esse jogo sujo de querer travar a minha gestão e o desenvolvimento da cidade. Baixem as armas, deixem de lado as mágoas e não ajam contra a cidade. A única coisa que eu peço é que me deixem trabalhar, me deixem fazer o que o povo de Natal me elegeu para fazer.
F: DN


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