Ao
retornar para casa, no fim da tarde, gosto de sintonizar o rádio numa FM para
saber as notícias do dia, uma vez que sempre absorto em atividades diversas, na
maioria das vezes não fico sabendo o que está rolando no planeta que habito com
renovado prazer.
Foto: Ilustração
Hoje temos uma grande variedade de programas, migrando a FM de espaço exclusivo
de música, para um mosaico de muitas coisas, notadamente piadas, futebol,
política, religião e comentários.
Vários programas apresentam comentaristas diversos e, alguns, pródigos em fácil
verbalização de análises, conseguem fixar nossa atenção, devido a uma perfeita
junção de frases de efeito com entonação de voz e, domínio do assunto eleito
para aquele momento.
O danado é que as análises muitas vezes convergem para uma confiança absoluta
de que o dito e o previsto, vão acontecer, nos levando a crer, devido ao
enfeitiçamento em que somos mergulhados no caldeirão das capacidades
apresentadas pelo analista, de que, de fato, o dito vai ser o futuro.
O tempo passa e, a realidade, teimosa que só ela, mostra um presente totalmente
diferente e, tudo o que foi analisado e dito como caminho natural do pensado,
não se traduz, frustrando o ouvinte e, encaminhando sua própria análise do
analista e futurista, de que o mesmo tem mesmo é muita lábia, lero-lero, grande
capacidade de expressar pensamentos, mas que suas colocações não passam de
orgasmo mental.
Isso acontece com muitas pessoas. Elas começam a falar e essa capacidade que
tem, além de causar admiração nos que estão próximos e naqueles que estão
ouvindo através da mídia, também as embriaga, a pessoa passa a curtir a si
mesma, se achar muito capaz, inteligente, ai começa a misturar zuada de
lambreta com zero na caderneta, entrando num oito que deixa todo mundo
extasiado, mas, que não passa disso, um vai e vem de frases fiadas sob o manto
de um tema, que no fim, não produz um vestuário e, sim, um farrapo oratório.
Encontramos também esses analistas sem resultado concreto no futebol. O cara
faz um comentário esculhambando o time e dizendo que da maneira que está o
escrete não vai a lugar nenhum, ai no segundo seguinte, o mesmo time que não
prestava para nada, começa a fazer gols, com o comentarista mudando da água
para o vinho e, intitulando aquele mesmo time, de esquadra, seleção, timaço.
Essa é a vida, imprevisível, que parece não gostar de ser adiantada, preferindo
acontecer como ela é, no momento, fugindo de regras, de paradigmas e, revelando
a todo instante que não adianta falar bonito e citar grandes pensadores, afinal
a única coisa que não muda, é que tudo muda e, a própria mutação como lei
universal, não permite que no presente, possamos seguramente, querer saber o
futuro.
F: Flávio RezendeEscritor, e jornalista
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