B R A S I L
O PAÍS DA CURVA DA LEITOA
O PAÍS DA CURVA DA LEITOA
O problema de falta de amor e respeito pelo próximo é a fonte de todos os nossos desmandos no campo social.
ARTIGO
SOCIO-POLÍTICO-CULTURAL
Por Carlos Lúcio Gontijo*
Brasil - A mais necessária das reformas, a mãe de todas elas, seria (e o é) a mudança no comportamento humano do brasileiro, onde impera a cultura do levar vantagem em tudo, impondo a supremacia do mais esperto sobre o mais capaz, do mais corruptível sobre o mais competente, do maria-vai-com-as-outras sobre o mais questionador, do mais talentoso pelo mais bem relacionado ou mais influente e assim por diante.
As ações e a inoperância de nossos representantes políticos e demais autoridades constituídas ensinaram ao nosso povo que é preferível ter como governante uma figura pública que rouba, mas faz, que um administrador que a nada dá andamento, mas igualmente surrupia. A sensação que temos é de que a corrupção aumentou e o assalto aos cofres públicos também, porém o que temos diante de nós é o desenvolvimento do Brasil e o consequente avanço do número de obras, gerando maior investimento do setor público acompanhado do aumento da propina, que é um vício inerente e inarredável do alicerce de nossas construções públicas. Quem não libera propina, sua pipa não empina – seja no setor público, seja no setor privado.
Vivemos hoje em nossa querida Santo Antônio do Monte e conta-se por aqui que uma perigosíssima curva que existe na MG-164, que liga a cidade ao município da Pedra do Indaiá e à MG-050 é fruto das tratativas entre o proprietário de uma fazenda e o engenheiro e operários responsáveis pela abertura daquela então nova via. Ou seja, para a estrada não ocupar pedaço maior em suas terras, o tal fazendeiro prometeu assar uma leitoa regada a uma farta bebida para todos. E assim se fez e assim se cumpriu, deixando como resultado um traçado rodoviário completamente desrespeitador à vida humana.
O problema de falta de amor e respeito pelo próximo é a fonte de todos os nossos desmandos no campo social. Lamentavelmente, a maneira mais fácil que as pessoas têm à mão para demonstrar seu poder é ferindo os que estão ao seu redor. Agem psicologicamente como se fossem crianças que, para externar sua pretensa força, costumam quebrar os objetos colocados ao seu redor.
É por essas e outras que andamos com o andor da literatura que carregamos no peito com muito cuidado, atuando simplesmente como produtor de cultura, que é o que sabemos fazer, sem entrar no ativismo sem causa, no qual impera a língua ferina do fogaréu de vaidades, que termina dificultando o já árduo caminho dos autores de trabalhos literários independentes. A nossa contribuição ao meio da cultura escrita se resume à elaboração de artigos e edição de livros, cujos exemplares são (em sua maioria) desprendida e gratuitamente repassados aos cuidados de bibliotecas comunitárias, escolas rurais, escolas de periferia e tantos outros lugares aonde o livro de literatura raramente chega.
Visualizamos um grande equívoco na filosofia com que se administra a pedagogia do ensino brasileiro, na qual se coloca o conhecimento como uma porta para alcançar muito dinheiro e fama. Dessa forma, os alunos chegam ao vestibular à procura da profissão que lhes dará mais salário e mais acesso a bens materiais, ainda que não tenham qualquer vocação nem gosto pelo exercício da mesma, esquecendo-se de que a escolha de uma atividade profissional é projeto de futuro para uma vida inteira. Como no caso da curva da leitoa, poderá ter em sua vida um indesejável trajeto a ser percorrido com risco, desânimo e infelicidade.
Enfim, assistindo à transformação do grotesco em arte; à louvação da barbárie, da desordem e da violência como fatores acoplados à liberdade democrática; à hipocrisia, à mentira e à corrupção como fenômenos inerentes às práticas políticas, só nos resta enfatizar que o verdadeiro sucesso se resume em conhecer o nosso propósito na vida, crescermos para atingir o nosso potencial máximo e lançar sementes que beneficiem outras pessoas, cientes de que a certeza da escuridão costuma doer-nos menos que a falsa promessa de luz!
*Carlos Lúcio Gontijo, PPdM:
http://www.poetasdelmundo.com/Poetas/3712
Poeta, escritor e jornalista www.carlosluciogontijo.jor.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário