sexta-feira, 18 de novembro de 2011

TRAÇOS POÉTICOS


SECA POLÍTICA
Autor: Janilson Sales de Carvalho

A água sumiu das cacimbas Rios e açudes
Não deixou recado,
Só um medo furtivo
Os políticos providenciaram Caminhões-pipas
Necessário salvar as vidas
As famílias prepararam latas,
Baldes Jarras Tanques Cisternas
O carro-pipa vai chegar
O motorista traz lista
Por que lista?
A água não é para todos?
A ordem é clara : "os da lista!"
Só os que votaram e apoiaram.
Os outros se virassem.
E a fila de latas vai diminuindo.
Os tanques vão permanecer vazios.
A ordem é clara: "os da lista!"
Os outros que procurassem o adversário,
Já que ele se comprometeu.
O caminhão parte
Soltando um fio de água
Na estrada de barro
Deixando para trás
Latas vazias
Olhares tristes.

SENTIMENTOS
Autora: Suely Magna Nobre Felipe

Volta e meia
Quedo-me agonizante
Ao insinuar-se
Do outro lado da lua
A monotonia
De um martelo agalopado
Enquanto pulsa
A realidade crua, nua
Latejante
Pedindo passagem
Desencontrada
Do lirismo passadista
Que em mim
Arde, açoita
Urge lançar fora
O verso metrificado
A rima maldita
Controladora
Impondo amarras
Mascarando a vida
Que sangrando
Escorre rápido
Pelas veias
Desce às ruas
Encharcando as vielas
Ali onde há pressa
De saciar a sede
De estancar a dor
Que não passa compassada
Antes grita, agoniza
Em versos escandalosos e descompassados.

A FARSA DO FARSANTE
Autora: Auzeh Auzerina Freitas              
Universo, 17/11/11

AH! palavras se vocês voltassem, eu as retificaria todas.
Ah! Juventude se você voltasse eu teria asas e poderia voar.
Ah! maldito que fechou a porta de mentira e permaneceu como ladrão de sonhos.


Te sepultei vivo e teu rosto assusta nesta palidez mórbida.
Fugirei de tua presença enquanto estou presente e não transporás a porta do meu velório pois já deixei escrito ordem em testamento.
As lágrimas que um dia me fizestes chorar serão pântano para teus pés.


E não haverá portas para você fingir fechar e abrir outra vez. E adentrar. Invasor.
O vinho que ofertavas era o fel da tua alma e em mim agridoçes lembranças.
Do teu cantar até o violão era Farsa. Para tí me deixastes cega, surda e muda.

SONETO DAS DEFINIÇÕES
Autor: Carlos Pena Filho
Recife(PE) - 1929-1960

 Não falarei de coisas, mas de inventos
e de pacientes buscas no esquisito.
Em breve, chegarei à cor do grito,
à música das cores e do vento.

Multipicar-me-ei em mil cinzentos
(desta maneira, lúcido, me evito)
e a estes pés cansados de granito
saberei transformar em cataventos.

Daí, o meu desprezo a jogos claros
e nunca comparados ou medidos
como estes meus, ilógicos, mas raros.

Daí também, a enorme divergência
entre os dias e os jogos divertidos
e feitos de beleza e improcedência.

 PEGADAS NA AREIA
Autor: Mary Stevenson

Uma noite eu tive um sonho...
Sonhei que estava andando na praia
com o Senhor
e no céu passavam cenas de minha vida.
Para cada cena que passava,
percebi que eram deixados dois pares
de pegadas na areia:
um era meu e o outro do Senhor.
Quando a última cena da minha vida
passou diante de nós, olhei para trás,
para as pegadas na areia,
e notei que muitas vezes,
no caminho da minha vida,
havia apenas um par de pegadas na areia.
Notei também que isso aconteceu
nos momentos mais difíceis
e angustiantes da minha vida.
Isso aborreceu-me deveras
e perguntei então ao meu Senhor:
- Senhor, tu não me disseste que,
tendo eu resolvido te seguir,
tu andarias sempre comigo,
em todo o caminho?
Contudo, notei que durante
as maiores tribulações do meu viver,
havia apenas um par de pegadas na areia.
Não compreendo por que nas horas
em que eu mais necessitava de ti,
tu me deixaste sozinho.
O Senhor me respondeu:
- Meu querido filho.
Jamais te deixaria nas horas
de prova e de sofrimento.
Quando viste na areia,
apenas um par de pegadas,
eram as minhas.
Foi exatamente aí,
que te carreguei nos braços.

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