sábado, 5 de novembro de 2011

OPOSIÇÃO PEDIRÁ IMPEACHMENT NO DF

Agnelo Queiroz nega motivações políticas nas demissões
Agnelo Queiroz(PT) - Governador do Distrito Federal - Foto Elza Fiuza

Brasília (AE) - O partido Democratas do Distrito Federal vai pedir, na Câmara Legislativa, o impeachment do governador Agnelo Queiroz (PT) pela suspeita de envolvimento no desvio de recursos do Programa Segundo Tempo, do Ministério do Esporte. O anúncio foi feito ontem pelo líder do partido no Senado, Demóstenes Torres (GO), da tribuna da Casa.

Agnelo Queiroz nega motivações políticas nas demissões
"Nosso partido, que expulsou aqueles que não honraram a sua bandeira, inclusive o único governador eleito em 2006, vai atrás dos outros", informou o líder, referindo-se ao escândalo da Caixa de Pandora, de 2009, investigado pela Polícia Federal, que levou o partido a expulsar o então governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda. "Não podemos tolerar que o PT, que naquela época fez um carnaval, se omita diante de provas consistentes quanto à participação do governador no escândalo em que não faltam testemunhas sobre a sua participação".

Para Demóstenes, o PT escolhido por Agnelo, depois de ele se desfiliar do PCdoB, tem duas opções: rever sua posição de apoio ao governador ou se assumir de vez como "o partido da boquinha". "Os petistas de brio, certamente, discordam da bandalheira. É necessário conclamá-los à batalha pelo resgate da moralidade no DF, bandeira essa que o partido tanto empunhou nas administrações anteriores", alegou.

Apesar do apoio dado a Agnelo Queiroz por 15 dos 15 deputados distritais, incluída toda a bancada petista, o líder afirma não ser essa a única vez em que a pressão da população leva os parlamentares a reverem a posição. "Entre o escalpo deles e o do governador, eles ficam com o do governador", justificou.

"Vim fazer este pronunciamento porque fiquei envergonhado com o que está acontecendo com a Câmara Distrital", afirmou o democrata. "Os deputados distritais estão fingindo que nada acontece em Brasília, não dão bola para a opinião pública, é como se nada estivesse acontecendo, é como se Agnelo fosse um papa, um teólogo, quando na realidade está envolvido até a tampa com toda espécie de corrupção", acusou.

Promotor de Justiça licenciado, Demóstenes disse que não faltam provas sobre a participação de Agnelo no esquema, quando ele comandou o Ministério do Esporte, de 2003 a 2006. "Tudo indica que foi ele quem contratou o advogado que preparou a defesa de João Dias", lembrou, referindo-se ao pedido à gravação feita com autorização judicial da conversa em que o policial militar pede ajuda a Agnelo para se defender da denúncia de desviar recursos do Segundo Tempo. "Há ainda um esquema de notas frias e duas testemunhas que dizem ter entregue dinheiro a ele", lembrou.

João Dias e sua mulher, Ana Paula de Faria, e outras cinco pessoas são alvo de denúncia da Procuradoria da República no Distrito Federal por cinco crimes: formação de quadrilha; apropriação indébita; falsidade ideológica; uso de documento falso e lavagem de dinheiro; e pelo envolvimento no desvio de dinheiro do programa em Brasília.

Agnelo Queiroz exonera 51 delegados

Brasília (AE) - Em meio à maior crise política desde o início de sua gestão, o governador do Distrito Federal (DF), Agnelo Queiroz (PT), exonerou 51 delegados - 43 deles chefes de departamentos - e dirigentes da Polícia Civil, inclusive a diretora-geral, Mailini Alvarenga. As demissões, publicadas ontem no Diário Oficial, ocorrem depois do vazamento de conversas telefônicas entre Queiroz e o policial militar João Dias, delator do suposto esquema de desvio de recursos que derrubou o ministro do Esporte, Orlando Silva, na semana passada.

As escutas revelam intimidade entre o governador e o militar, a quem Queiroz trata por "meu mestre" e se dispõe a ajudá-lo a maquiar a prestação de contas de convênios, no valor de R$ 3,4 milhões, que duas ONGs dele obtiveram do Programa Segundo Tempo. Dias teve as contas rejeitadas e o Ministério cobrava a devolução do dinheiro. Por meio de nota, o governador tentou minimizar a crise, alegando que não se trata de demissão em massa, mas de "reacomodações" naturais em razão da mudança na cúpula.

Segundo o governador, a Operação Shaolin, que o investigou denúncias de desvio de recursos do Programa Segundo Tempo em 2010, quando ele disputava a eleição, foi concebida num ambiente de espionagem criminosa praticada por grupos da Polícia Civil "contaminados por forças políticas do passado". Essa ala, explicou, era ligada aos ex-governadores Joaquim Roriz (PSC), que disputava o pleito, apesar de vetado pela Lei da Ficha Limpa, e José Roberto Arruda (então DEM), preso e cassado na operação Caixa de Pandora.

Para ele, "apesar de todo esforço e do excelente quadro" da corporação, a diretora-geral não conseguiu enquadrar os revanchistas. "Esses pequenos grupos ainda insistem em cometer desmandos, transformando o que deveriam ser investigações em fatos políticos, criando artificialmente denúncias", disse. "Estes, sim, serão afastadas do poder por estarem envolvidas em denúncias e não se conformarem com a mudança de gestão na condução do governo", enfatizou.

Na mesma edição do Diário Oficial, o governador nomeou 29 delegados para outras funções. Alguns ainda serão reaproveitados, mas os demais devem ficar na "geladeira", ou mesmo responder processo administrativo. O Ministério Público teme que a mudança radical cause prejuízo a várias investigações em curso contra o crime organizado, corrupção e desvios de dinheiro público.

Os vazamentos de escutas para atingir o governador não eram a única queixa contra Mailini. No cargo desde o início do ano, ela era acusada de falta de pulso para conter a onda de insubordinação em toda a cadeia de comando da instituição, que está em greve geral há mais de uma semana, com adesão até de delegados. "A mudança na corporação é no sentido de superar uma série de movimentos grevistas, como o de agora", observou Queiroz.

No lugar de Mailini, assumiu o comando da instituição o experiente delegado Onofre de Moraes, há 34 anos na casa, que prometeu dar sequência ao programa de profissionalização iniciado pela antecessora. "(A mudança) Não pode ser interpretada como retaliação, pelo contrário, é um gesto até para preservar a ex-diretora", acrescentou o governador.

A Polícia Civil do DF é a mais bem paga do País, com salários que variam de R$ 7,5 mil - agente em início de carreira - a R$ 21 mil - delegado especial. É conhecida também como uma das mais insubordinadas, além de exposta à excessiva partidarização de seus membros, cinco deles exercendo mandatos parlamentares e outros ocupando postos chaves no Poder Executivo.

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