BRASÍLIA
- O Conselho Federal de Medicina (CFM) entende que a solução para a
falta de médicos no interior passa pela criação de uma carreira
semelhante à de promotores, juízes e militares. Essa seria uma forma de
obrigar os profissionais da saúde a trabalhar alguns anos em municípios
distantes e de difícil acesso, antes de migrarem para as capitais e
cidades de maior porte.
Como o GLOBO mostrou no domingo, prefeituras têm dificuldade para atrair médicos, mesmo oferecendo salários acima de R$ 20 mil por mês. Um programa do Ministério da Saúde que oferece bônus nas provas de residência médica a recém-formados que aceitem trabalhar um ano no interior ou em áreas de risco de grandes cidade também patina: as 7.193 vagas oferecidas por mais de mil prefeituras só despertaram interesse em 1.460 profissionais.
- No interior, a carreira de Estado talvez seja a única solução. Como qualquer profissional, o médico vai aonde o mercado está. E, aonde o mercado não foi, o Estado tem que ir - diz o segundo vice-presidente do CFM, Aloísio Tibiriçá.
Segundo ele, a criação de um carreira nacional de médico no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS) foi discutida no fim do governo Lula e chegou a receber o aval do então ministro da Saúde, José Gomes Temporão. Mas não foi adiante. O próprio ministério informa que 2.130 prefeituras lutam para manter ou expandir o programa de Saúde da Família. E a principal causa é a falta de médicos.
Para o dirigente do Conselho Federal de Medicina, a situação é diferente nas capitais e regiões metropolitanas, onde o maior desafio é melhorar as condições de trabalho. Segundo Tibiriçá, problemas de gestão e excesso de pacientes transformam as unidades de emergência e pronto-socorro em cenário de guerra:
- Você vai a uma emergência pública e parece um hospital de campanha: gente no chão, em maca, em corredores todos ocupados. Pegue qualquer fotografia de emergência e o que vai ver é superlotação, sobrecarga de atendimento. Como o médico vai querer trabalhar num ambiente desses?
Tibiriçá é contra a flexibilização das atuais regras de validação de diplomas de médicos formados no exterior. Ele defende o atual exame aplicado pelo Ministério da Educação, o Revalida, que no ano passado teve 677 inscritos, dos quais 536 fizeram as provas e somente 65 foram aprovados.
- Consideramos uma porta errada a proposta de abrir as fronteiras do Brasil para a entrada de médicos. A gente está assistindo a improvisãções de políticas de governo e não de Estado que tentam dar respostas de curto prazo a problemas que preocupam a população.
O CFM, a Associação Médica Brasileira (AMB) e a Federação Nacional dos Médicos (Fenam) querem reunir-se com os ministros da Saúde (Alexandre Padilha) e da Educação (Aloizio Mercadante) para discutir o plano de aumentar o número de médicos no país, ainda em fase de elaboração no governo.
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