Recentemente li uma interessante entrevista na Veja, extraindo da mesma a constatação que a dramaturgia novelesca nacional caminha para mostrar a ascensão das classes B e C, pois são destas classes sociais que estão emergindo as figuras mais badaladas do Brasil atualmente.
As celebridades atuais são jogadores de futebol, cantores de músicas regionais, atletas e novos ricos, todos com histórias interessantes de vida, sepultando momentaneamente os antigos cenários da classe rica nacional, sempre mostrada em seus dramas em belos cenários no eixo Rio-São Paulo.
Essa nova situação, bem expressa na novela Avenida Brasil, me leva a outra reflexão. Como convivo com todas as classes sociais, devido a meu envolvimento com a Casa do Bem, que trabalha com classes sociais distintas e de baixa renda, observo que nestas classes C e D, estão pessoas que agarram com vontade os projetos que disponibilizamos em várias áreas.
Observo ainda que os jovens, da classe A, não todos, é claro, estão presos às redes sociais, perdendo o interesse por conhecimento e muito interessados em troca de mensagens, muitas das quais despidas da observância das regras gramaticais. Não consigo detectar neste meio uma garra, uma pujança na busca de ideais de vida, precisando que os pais fiquem cutucando com vara curta o tempo todo, para que assumam um comportamento mais objetivo na vida.
Os jovens de classes sociais menos favorecidas economicamente estão me parecendo mais ativos, buscando agarrar as oportunidades, formando times, grupos musicais, frequentando as ruas e os ambientes culturais, esportivos e sociais com mais intensidade, correndo atrás para que suas vidas possam alcançar níveis mais satisfatórios de prazer pessoal e de tranquilidade econômica.
A constatação de que a classe A está assistindo em suas luxuosas poltronas a ascensão das demais classes, passando a ver o cotidiano, o linguajar, as comidas e as multidões aplaudindo seus sucessos, é real tanto nas novelas, quanto na vida real.
Quem são hoje os grandes ibopes do Brasil, podemos citar o Neymar, jogador de futebol, Anderson Silva, lutador de MMA, o Lula, ex-presidente, uma grande quantidade de cantores, atores e atrizes, todos oriundos das classes B, C e D, que chamam atenção das antenas da raça, os escritores, diretores e jornalistas, ávidos para revelar a todo o Brasil e até ao planeta, as origens e as histórias de todos estes vencedores.
Essa exposição, tirando questões filosóficas, sociológicas e psicológicas diversas, tem seu lado bom, a meu ver, essa multidão anônima de jovens, nascidos em berço de cobre, muitos dos quais doados ou adquiridos em 50 suaves e criminosas prestações de juros estratosféricos, vendo na TV ou demais meios de comunicação o sucesso do seu semelhante, aquele que saiu lá do meio do mato e foi enfaixado presidente, aquele que saiu da favela, lutou e subiu no pódio mundial de Las Vegas e o que saiu do bairro periférico e é hoje um dos mais balados jogadores de futebol do planeta, entre tantos outros, só pode vibrar, ficar feliz, sentir dentro de si que também pode chegar lá.
Como dirigente de uma organização não governamental tive o prazer de receber em nossa Casa do Bem o jogador de futsal Falcão. Os jovens ficaram loucos e a visita teve um efeito muito positivo. Ele que saiu da Zona Norte de São Paulo e chegou a ser eleito o melhor jogador de sua categoria do mundo, disse para os jovens presentes que todos ali podiam chegar aonde ele chegou.
Não tem palestra com fotos, novela, filme, preleção, livro ou artigo que possa influenciar tanto um jovem, como o contato direto com uma pessoa bem sucedida na área que ela almeja, por isso, proponho a todos os seres que alcançaram sucesso, que sempre abram um tempinho na agenda para dar testemunho, estimular, fazer ver a tantos quantos possam que é possível sim chegar lá, basta agarrar as oportunidades, jogar, treinar, estudar, ler, ensaiar, correr, pensar positivo e, aos jovens de todas as classes sociais, lembro, facebook, twitter, orkut, e-mails, tudo isso é muito bom, mas, avitória final exige mais, exige uma atuação também no mundo real.
F: Flávio Rezende
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