Por problema pessoal
não me manifestei antes sobre as greves deflagradas pelas policiais militares
da Bahia e do Rio de Janeiro por melhores remunerações. Houve um massacre da grande mídia contra os
militares grevistas, especialmente das televisões, apoiada nos excessos de
alguns mais afoitos, corriqueiros e quase sempre inevitáveis em todas as
manifestações populares. Fundamentaram-se na proibição constitucional ao
direito dos militares fazerem greve. Neste particular, a imprensa brasileira
nunca cita o dispositivo constitucional para sustentar as teses defendidas.
Mencionar sempre o dispositivo facilita para quem quiser confirmar a citação.
Ninguém se lembrou de que a mesma Constituição que veda greve aos militares
prevê um salário mínimo suficiente a cobrir todas as necessidades básicas de
todos que trabalhem. Todo mundo sabe que se trata de uma norma morta, mas
nenhum governador ou prefeito foi preso por descumpri-la. A Rede Globo exagerou
tanto numa cobertura parcial que sua equipe chegou a ser expulsa de uma
manifestação no Rio de Janeiro. Nessa discussão não houve
proporcionalidade entre os malefícios de uma greve com o mal maior que é o
baixo soldo pago aos militares. Também ficou fora o limite suportável pelo ser
humano no achatamento dos seus soldos. Traspassado esse limite, o desespero não
leva em conta nenhuma regra. Para a família que passa fome a única regra justa
é comida. Durante os movimentos, os grevistas foram tachados como se todos
fossem verdadeiros baderneiros, nenhuma avaliação considerou justas as
reivindicações, sem consideração ao passado de trabalho árduo, correndo risco
de vida diário, inerente à função, mas muito mais por falta de equipamento
adequado. Não houve ponderação, e se houve, foram tímidas, quanto à penúria das
famílias dos militares. Ninguém considerou as necessidades vivas das famílias
acima de uma norma fria de uma Constituição. Os excessos cometidos devem ser
combatidos. Não pode, entretanto, os estados pagarem uma miséria, respaldados
apenas na ameaça e na truculência utilizadas quando os militares espernearem.
Este procedimento saiu-se vitorioso nas recentes greves na Bahia e no Rio de
Janeiro, mas não garante que servirá para debelar uma greve em todos os estados
que pagam soldos miseráveis aos seus policiais. Como sempre, passados os
movimentos, os ínfimos valores pagos não são mais lembrados pela mídia, do que
se aproveitam os governadores para manterem o pagamento de verdadeiras
esmolas. Não tratam a questão com seriedade antes confiados na solução de
ameaçar e prender grevistas. Não deveriam esquecer que não há porteira que
segure uma boiada descontrolada. E a mídia precisa tratar ambas as partes com
maior equidade. Só malhar a parte mais fraca é fugir da papel primordial de
informar com imparcialidade e devida proporcionalidade. Deu certo, por
enquanto.
F:Pedro Cardoso da
Costa – Interlagos/SP
Bel. Direito
Bel. Direito
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