ENTREVISTA
Por Andressa Vieira
estudante de Jornalismo da UFRN
estudante de Jornalismo da UFRN
Qual será o direcionamento/abordagem e qual a expectativa que os participantes devem ter do curso que será ministrado?
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A abordagem da palestra pretende ajudar a compreender diferentes dinâmicas sobre as técnicas e as estratégias de comunicação, quer desde uma perspectiva histórica quer actual, mas virada fundamentalmente para o campo da propaganda política, com um sentido global e local ao mesmo tempo.
Quanto às expectativas do curso é com os próprios estudantes. Eu só ofereço a garantia de que o curso vai ajudar-lhes a se fazer perguntas sobre o fenômeno da comunicação em diferentes contextos e, provavelmente, vão estudar academicamente campanhas de comunicação que nunca antes tinham analisado e que fizeram História.
Por que a compreensão desse tema é importante para a sociedade contemporânea?
Por que a compreensão desse tema é importante para a sociedade contemporânea?
Bem, o tema acho que é relevante porque estuda campanhas de comunicaçao que tiveram uma importância extraordinária para a historia de um pais ou do mundo, como o caso da campanha de propaganda nazi ou a campanha internacional pela independência de Timor Leste. São campanhas que mudaram o rumo da História, cada uma no seu marco político, social e cultural.
Quais as suas expectativas acerca do curso, no geral?
Quanto a mim, espero que o intercâmbio dos estudantes com um professor espanhol da Galiza seja últil para compreender o fenômeno da comunicação desde outra perspectiva, para além das fronteiras geográficas e culturais. Simplesmente, tentar achegar outras realidades para a aprendizagem numa sociedade global.
Para você, qual a influência que as campanhas de comunicação têm na formação da sociedade cultural, política e econômica, sobretudo em tempos de sobrepeso da Indústria Cultural? Elas são mesmo capazes de mudar o rumo da história?
As campanhas de comunicação têm uma influência determinante. Nós somos o que comunicamos e nós compreendemos enquanto podemos descodificar as mensagens que recebemos. Os discursos dominantes nas sociedades contemporâneas sempre são divulgados através da comunicação social. A economia, a política e por suposto a cultura evoluem dentro de um processo imparável de produção informativa que faz com que a realidade cambie. Poderíamos dizer de forma radical (mas muito aproximados à dinâmica sociológica da superestrutura comunicativa) que só existe o que a faz parte da agenda informativa: tem sempre mais relevância cultural, econômica ou política o que tem impacto midiático. Portanto, as campanhas de comunicação podem fazer com que, verdadeiramente, determinadas situações cambiem: cambie um governo, cambie um comportamento social, cambie o resultado das vendas dum sector industrial, cambie em definitiva a nossa percepção da realidade.
Qual a sua relação com o tema abordado na palestra? Desde quando trabalha com ele e como surgiu interesse por essa pesquisa em especial?
A minha linha de pesquisa é a propaganda polítca, desde uma abordagem cultural e histórica, para além da minha condição de professor de História da Propaganda. Portanto, estou virado para o estudo de campanhas de comunicação históricas, que tiveram um influência decisiva no desfecho de determinados acontecimentos. No caso da campanha a favor da independência de Timor Leste, também fiz parte da East Timor Peace Mission, portanto tive ocasião de estudar a campanha, mergulhado no próprio acontecimento. A minha experiência como jornalista de televisão, rádio e imprensa deu-me a possibilidade de realizar um estudo desde um ponto de vista mais pragmático, aplicado ao contexto da produção comunicativa, não só de análise teórica.
Qual a influência que você atribui às novas mídias nas campanhas de comunicação atuais? Tratam-se de ferramentas indispensáveis? É possível, atualmente, realizar comunicação sem elas?
Qual a influência que você atribui às novas mídias nas campanhas de comunicação atuais? Tratam-se de ferramentas indispensáveis? É possível, atualmente, realizar comunicação sem elas?
Estamos ainda num processo em evolução, mas que está a evoluir muito rápido. Desde o meu ponto de vista, estamos mergulhados dentro de um processo revolucionário, de grandes transformações, que afeta tanto as rotinas de produção informativa, como ao modo em que os receptores interatuam com a mídia. Sim, a influência das novas tecnologias da comunicação está a criar um novo paradigma na comunicação: a “interconexão interativa criativa”: os públicos podem interactuar livremente através de vários suportes tecnológicos de comunicação criando os seus próprios conteúdos.
Podemos criar e fazer comunicação sem as novas ferramentas, claro, mas são o presente e o futuro. E ninguém pode fugir de uma realidade com tantas possibilidades criativas. Por enquanto, são indispensáveis para os mais jovens, mas é uma questão de tempo. O futuro vai ser interativo ou não será.
O que você pensa da Comunicação realizada no Brasil, de uma forma geral?
Brasil é uma marca magnífica, uma marca que comunica com muita força, que é capaz de sugerir simbolicamente ideias poderosas sobre a identidade de um país plural, aberto e de grande riqueza cultural. Em geral, a comunicação profissional que se está a criar no Brasil está prestigiada a nível internacional, especialmente as campanhas relacionadas com a marca-país, mas também com o mundo político, capazes de criar líderes com suficiente projecção mundial como o Lula da Silva, que também é um excelente comunicador.
Como a atual situação econômica da Espanha tem influenciado no fazer Comunicação do país? E como a mídia e a sociedade têm espelhado esse momento?
A situação econômica está a influir, sim, na atividade profissional da comunicação, não só no aspecto empresarial, mas também na parte produtiva. Estão a fechar empresas informativas, estão a despedir muitos jornalistas. Tudo como consequência da falta de crédito e também da falta de investimento publicitário. O panorama é realmente crítico, mas eu acho que há esperança e até penso que isto vai supor uma renovação profunda para um novo renascimento dos meios de comunicação espanhois.
Você já veio ao Brasil alguma outra vez? E ao Nordeste? O que espera encontrar por aqui?
Sim, tive ocasião de participar noutras atividades acadêmicas na Universidade de Brasília, na Universidade de São Paulo e na Universidade Federal de Bahia. O que espero encontrar é algo que sempre encontrei no Brasil e que agradeço profundamente: crescimento profissional e pessoal, aprendizagem acadêmica e muita simpatia e amizade. E particularmente quero agradecer o convite que me faz a Professora Maria Érica de Oliveira Lima para poder voltar a este maravilhoso país.
Além do curso na Universidade de Rio Grande do Norte, está prevista a minha participação na XV Conferência Brasileira de Folkcomunicação, em Campina Grande, e depois tenho agendadas palestras na Universidade Federal Rural de Pernambuco, na Universidade Federal de Alagoas e na Universidade Federal de Sergipe.
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